quinta-feira, 14 de junho de 2012

Toucado

Já tem um tempo [muito tempo] em que eu andei folheando umas revistas dos anos 80. Várias delas tinham reportagens sobre cabelos, e davam conselhos às leitoras de cabelos muito lisos, "ralos", com truques para deixá-los "mais volumosos e atraentes". O tempo muda mesmo. Hoje em dia há recursos sobrando e filas nos salões para fazer progressiva nos cabelos. Mas o que me chamou a atenção foi a campanha que vi no Facebook esses dias: "Em terra de chapinha, quem tem cachos é rainha."
Não vou negar que a campanha tem uma base interessante, isto é, que as mulheres lutam incessantemente desde o início dos tempos contra a natureza de seus cabelos e seus corpos para adequar-se ao padrão de beleza, e que devem se "libertar" dessa opressão. Mas, sinceramente, será que há algo de fato libertador nisso? Ao declarar as donas de madeixas aneladas como rainhas, não se está criando um novo padrão? E as mulheres de cabelos lisos naturais, vão ter que voltar aos anos 40 e usar bobes?
Libertador é usar o que te agrada. Aconteceu de eu nascer com o cabelo ondulado, mas acho que o liso fica melhor para mim e assim prefiro. E não vejo como negação do meu biótipo, de origens ou do que seja. É uma questão somente de gosto pessoal. O que importa não é buscar o ideal de beleza alheio, mas sim harmonizar ao máximo possível o que se parece com o que se deseja parecer.
A mulher é livre, tão livre que pode escolher ir contra o padrão ou a favor dele, sem ter que ser obrigada a ter a aparência com que nasceu. A mulher negra que pinta o cabelo de loiro está tão certa quando a loira que pinta de ruivo ou a morena que mantém o castanho. O que importa é que se olhem no espelho e vejam o reflexo de si mesmas. De verdade.