segunda-feira, 23 de março de 2009

Alimento


Os segundos são o alpiste do tempo.

sábado, 14 de março de 2009

O dia em que falsifiquei Drummond

O poeta se rasga pelo poema, e no final a paixão leva todo o crédito


Foi na oitava série. Depois de mais ou menos seis meses de aulas de Literatura, cheguei a algumas conclusões: 1) aquela seria minha matéria preferida para todo o sempre, amém. 2) os poetas são seres que conseguem tornar palavras imortais e 3) eu pretendia fazer a mesma coisa com as minhas.

Estas conclusões tiveram algumas conseqüências (com trema mesmo): 1) comecei a estudar desesperadamente para descobrir o que é que os poetas têm que eu não tenho e 2) procurar a solução mais simples para isto. E comecei a escrever mais também. E várias vezes meu orgulho falava comigo: "É, Laila, ficou muito bom. Isso podia ter sido escrito por um daqueles figurões." E eu acreditava. (Ah, o ensino fundamental...)

Até que um dia me ocorreu aquela frase ali em cima (que não coloquei a autoria de propósito) e eu a achei tão boa, tão boa que resolvi fazer um experimento: falsificar. E não podia ser de um escritor qualquer, tinha que ser um bem conhecido. Procurei um que pudesse dizer mais ou menos a mesma coisa e Drummond me deu tchauzinho. Hmmm boa idéia.

O passo dois era saber para quem eu iria lançar meu texto apócrifo. Não podia ser um leigo. Tinha que ser alguém com vasto conhecimento. Se é para testar, que seja algo bem feito. E o mais importante: esta pessoa não pode ter acesso à internet, pois senão ela poderia postar a citação e aí não tem mais volta. A pessoa perfeita veio até mim: a melhor professora do mundo, que me dava aula de Literatura (aquela do livro miojo e macarronada).

O plano estava completo, era só esperar a ocasião. E ela aconteceu até bem cedo. Lancei a frase. Tremi na base. Na hora pensei que poderia ter escolhido uma outra professora qualquer, não a mestra suprema. Já pensou se ela descobre? Vergonha eterna e absoluta. E agora, José?
Mas... ela caiu!
Até agora não creio nisto. Não só caiu como disse "Esta eu não conhecia, mas realmente só podia ser do Drummond mesmo!" Glória eterna e absoluta. Escrevi algo que poderia ser do Drummond. Incrível. Sou imortal. Vou pleitear minha vaga na ABL. Paulo Coelho que se cuide.

Naquela noite eu tive um sonho memorável. Eu estava atravessando a rua para chegar à ABL e tropecei numa pedra no meio do caminho. Eu caí de cara no chão e quando estava levantando vi uma flor no asfalto. A rosa do povo. Ela era igual à ilustração da rosa do Pequeno Príncipe.

A rosa me olhou com uma indignação de dama ultrajada e disse: "O poeta se rasga pelo seu poema, vem uma estudante qualquer e acha que faz grande coisa. Para ser imortal, não basta imitar um imortal de verdade, tem que ser bom o suficiente para alguém querer imitar você."

Fiquei olhando para aquela flor com ódio, medo e nojo. Lembro-me de responder que estes poetas são meus e depois calar, reflexiva. A rosa tem razão. (Estaria eu ficando louca?)

Acordei para a escola com remorso, e naquele dia nem tive coragem de prestar atenção na aula de Português e levei o livro que estava lendo (O nome da Rosa!) para me desviar. Posso ter me arrependido da farsa, mas contar também não contei. O que até é arriscado, considerando que minha professora costuma vir aqui. Bom, isto não vem ao caso. Naquela noite sonhei que estava conversando com o próprio Drummond. Não me lembro dos termos exatos. Só sei que ele me perdoou e disse: Se penetrares surdamente no Reino das Palavras vais encontrar muitos poemas que esperam ser escritos.
E eu me sentei aos pés do imortal, cheguei mais perto e contemplei as palavras.
Os links no texto são para os poemas a que fiz referência no decorrer do texto, para quem ainda não conhece Drummond ou conhece e quer lembrar. Um poema de um imortal de verdade faz um bem danado à alma.

terça-feira, 10 de março de 2009

M.A.P. - O modesto-palanque

O modesto-palanque é especial. Ou melhor, pode até ser que ele não seja especial, mas com certeza é o que ele acha que é. Imagine um político em um palanque. A partir do momento em que ele sobe naquele palanque, o mundo gira em torno dele. As qualidades são exaltadas ao máximo, os defeitos, escondidos, varridos, soterrados. E aplauso e público e fotos e imprensa e luzes e holofotes e confete e caviar.
É assim que o modesto-palanque vive. Diferentemente dos modestos-holofote, ele nunca admite seus defeitos (aliás, que defeitos?). Ele não precisa da falsa modéstia dos modestos-confete e muito menos da modéstia polida dos modestos-caviar. Ele está acima disso tudo. Acima da modéstia, acima do bem e do mal e, principalmente, acima dos outros.
Conviver com alguém desse tipo pode ser extremamente difícil ou extremamente engraçado: tudo depende de como você vai tratar a questão. Supondo que seu professor seja um modesto-palanque. Ele realmente vai acreditar que a matéria dele é a mais importante e que as demais são apenas "acessórios". E ele nem vai se irritar se você disser o contrário, pois ele tem tanta fé de que é verdade que vai levar na brincadeira.
Até hoje não sei se o modesto-palanque quer se afirmar ou realmente se acha aquilo tudo (creio que é a segunda opção), mas o fato é que ele, mais que todos, sempre deixa a modéstia à parte.

Um experimento divertido: se divirta junto. É o jeito.


Com este texto, fecho a M.A.P., embora nada impeça de um dia eu encontrar um novo tipo de modesto e contá-lo. =) Espero que tenham se divertido.

quinta-feira, 5 de março de 2009

Reniversário

Aniversário é mais um adeus obrigatório para a criança de fora e um olá opcional para a criança de dentro.

O Banquinho está vivo e respirando novamente! Esta semana a modéstia parte e mais postagens virão (espero!). Não me abandonem!