quarta-feira, 11 de fevereiro de 2009

Meu avô e o poeta

De muito tempo eu não entendo esse meu amor profundo pelo Mário Quintana. Não me entendam mal: é um amor familiar, como se ele fosse o avô velhinho, e eu, a netinha aprendiz. Pode ser que seja pelas palavras que ele usa, muitas vezes as que se repetem em muito do que eu escrevo: estrela, sonho, passarinho, catavento... Pode ser que seja pelo jeito tão simples dele de passar as coisas pelos poemas. Não sei. Quando me deparo com algum poema dele, eu paro o que estiver fazendo, respiro e começo. Quando acabo, nunca tenho comentários: é apenas um suspiro. Como alguém que acaba de emergir de um mergulho muito profundo.

Outro dia a minha mãe fez uma observação que eu, incrivelmente, não tinha reparado: ele é a cara do meu avô. A mesma careca, as mesmas rugas, as manchinhas, o mesmo olhar de quem já viu e sofreu muito na vida e hoje não se detém mais a isso. O nariz, as rugas, tudo! Meu vô Delso: igualzinho.

Meu avô é um homem simples. As atividades dele são as mais frugais: sapateiro há mais de 50 anos, pesca sempre que pode, cria um milhão de passarinhos (exagero meu, claro, mas quando eu era menor era assim que parecia). Ele sempre se lembra de tudo: o queijo da minha mãe, o jornal de domingo para mim, a vagem que o meu irmão adora. Ele é casado com a minha avó também há mais de 50 anos, tem os mesmos amigos desde sempre e não abre mão da cervejinha na companhia deles em todo jogo do Botafogo. Ele senta sempre na mesma poltrona. Ele está doente.

Eu passei a ver meu avô como um poeta. A vida dele, tão absurdamente simples, chega a ser um poema vivo. O Mário Quintana colocou no papel toda a fugacidade da vida e a beleza das coisas simples dela. Cultivou um montão de palavras para falar sobre os passarinhos, plantas, peixes, estrelas e sonhos. Meu avô cultivou os próprios passarinhos e plantas, pescou os peixes e muitas vezes me mostrou estrelas e sonhos. Meu avô, que nunca escreveu um verso na vida, é para mim tão poeta quanto o príncipe dos poetas brasileiros.
Meu avô, o poeta.



Meu avô se internou ontem com problemas respiratórios. Você, que está aí lendo, se tiver alguma crença, peço que reze por ele. Para mim vai ter um valor enorme. Obrigada.


(13/02)Gente, meu avô vai ter alta hoje, obrigada pelo apoio de vocês!

quarta-feira, 4 de fevereiro de 2009

Axioma

Nada é tão simples que não possa ser complicado.



A Física não se cansa de provar este meu axioma que, por sinal, foi citado hoje numa aula desta matéria. A reação do professor? "Boa frase, é de alguém?" "É minha" "O seu mal é a modéstia."
Pois é.
A M.A.P. volta no próximo post com o modesto-palanque.
=)