quinta-feira, 30 de outubro de 2008

Abstrato Armado

Revolucionário. Podem ouvir-se os ecos do bater de espadas, joelhos ao chão, gritos, ferro, sangue e fogo. Qual! O revolucionário em questão é um senhor de olhar sereno, que já conta cem anos e tem uma filha, cinco netos, treze bisnetos e quatro trinetos; que passou a infância jogando futebol, a juventude na boemia, formou-se arquiteto e exerce a profissão.

E ele amou tanto este mundo, este povo, estas formas, que deste amor nasceu um sonho: compartilhar essa maravilha igualmente com todos. Tornar a sociedade mais igual, mais justa, digna da bela natureza e do povo que nela habita. E para transmitir sua mensagem não foi necessária sequer uma gota de sangue. De fato, não precisou nem erguer a voz. Como mágico, encantou cimento e tijolo; e escolheu simplesmente o que fazia de melhor: arquitetura.

Se sua obra tivesse um som, seria bossa-nova. A poesia-elemento plástico emanando de seus olhos acostumados à sua terra – o Rio de Janeiro, com suas curvas de ondas, morros e mulheres – para seus croquis. Aquela busca incessante pela essência da beleza contida na forma natural. Rompeu com a implacável linha reta, julgadora, intransponível, e privou o poder da sisudez dos prédios carrancudos, quadrados. Armou-se de compasso e régua e pôs no papel a tradução do mundo harmonioso que sonhara. Amplo e leve, as pontas beijando o chão e espreguiçando-se graciosas e esguias a sustentar a construção.

Sempre acreditou na arte unificada, então encheu também a literatura, a ilustração e o design de móveis com seu estilo inconfundível. Mas foi na escultura que o protesto falou mais alto, que a ferida doeu mais fundo. A beleza das formas gigantescas pega o observador desprevenido: chocante exatamente por ser bela, falando de faltas tão graves. A desarticulação da América Latina, a exploração do povo negro, a ditadura militar, enfim, toda forma de opressão tornou-se veia aberta nas suas linhas. As máculas do passado expostas, ampliadas, como uma lição da História impondo-se implacável.

“A vida é um sopro”, disse ele. E continua soprando seu talento pelos diversos cantos do mundo. A brisa que vem do Brasil e passa pelas fronteiras na América, por Cuba, pela Europa e África. Arquiteto, comunista, escritor, desenhista. Pode chamá-lo como queira. Mas com a consciência de que está falando do homem que fez do concreto armado algo mais humano, abstrato; que revolucionou até o sentido de ser revolucionário: Oscar Niemeyer.



Vou mimar um pouco minha auto-estima agora. O texto aí em cima acabou de me valer o primeiro lugar (!!!!) no regional de redação da UBM Valorizando o Talento Brasileiro. Todo mundo tem o direito de ser metido de vez em quando, certo?
rsrsrsrsrsrs
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quarta-feira, 22 de outubro de 2008

Carta aberta aos filhos de 1990-91

Sabe o quê? Às vezes eu acho a minha geração um saco. Vou dizer uma coisa: eu tenho vergonha da época em que nasci. Nós vimos tantos desastres, tantas invenções incríveis, tanta tecnologia, tudo tão fácil, tão perto, que nada mais tem graça.

Vocês querem saber de quem é a culpa? É lógico, é tão típico nosso querer culpar alguém (embora não seja nenhuma exclusividade dos nascidos pós-muro de Berlim). Não sei de quem é. Nossos pais viram a ditadura, viram as Diretas Já, viram o tal muro cair. E gritaram, levantaram bandeiras, usaram cabelo crespo e pintaram a cara. Os pais deles não eram tão acostumados com liberdade. Eles tiveram que consegui-la palmo a palmo.

E nós? Nos deram bem mais liberdade desde que nascemos, e o que fizemos com ela? Cobrimos com catchup e fomos para a sala ver TV. Foi tudo tão fácil que perdeu o valor. Depois de tanto tempo exigindo a participação nas eleições, hoje os jovens não querem tirar título ou votam em branco. 00 confirma.

Nunca vi gente mais apática. Quem tem ideologia é alien. Não é mais nerd, porque nerds são os alienados que passam 6 horas e meia no colégio e mais 5 em casa estudando. E são tão valorizados.

Geração platéia. Viramos uma meta-juventude sem metas. Nós não queremos mudar o mundo, nós desistimos do love and peace, nós abandonamos a luta de quem veio antes. Nós queremos o baile nos finais de semana. A cerveja, o cigarro ocasional (porque ninguém se assume fumante). Nós queremos nossa vaga na federal a qualquer preço. Dane-se o resto do mundo. Nós somos nada. Porque não somos nós, somos eu. Cada um por si. Não são mais os camaradas, a turma, a tribo. No singular sempre.

Não estou generalizando aqui, até porque eu não concordo com a maioria do que disse aqui. Acredito que se tiver alguém me lendo, também não concorde. Mas somos exceções e, como disse meu professor de História, elas só confirmam a regra.

Pois então, pra essa gente que se perdeu entre seus créus e céus, um apelo. Olha só como vamos entrar na História. Essa geração onde (quase) todos são os mesmos, e que apesar de tudo o que fizeram por nós continua vivendo tão, tão pior que os nossos pais.

sexta-feira, 17 de outubro de 2008

A inspiração suprema... e o bater com a cara na parede

Primeiro, a inspiração suprema: uma luz divina baixa na sua mente e você já sabe exatamente o quê e como vai falar. O poema perfeito, a obra-prima da sua vida... vai até cobiçando aquela cadeira na ABL...
Depois, o poema não sai. Quarta, quinta, sexta, "ah, deixa passar o final de semana", e o poema lá, ruminando devagarzinho, envelhecendo em barril de carvalho...

Aí, oito dias depois você toma vergonha, pega aquela bic (que sempre falha na hora), troca por outra, rasga uma página do caderno, senta e espera. O poema vai escorrendo - apesar de nunca, NUNCA ser aquilo tudo que você pensou. Bom, não importa. Vai chegando o último verso, e você já aliviado, pesando menos 532 quilos. Não era aquilo tudo, mas até que ficou bom.

Aí você trata o poema ungido com todo o respeito, dando o tempo para ele se rebelar na paz da sua gaveta até amadurecer, uns três meses depois.

Então, a glória! Mostrar para seus amigos/professor/namorado/subir num banquinho e ler na rua. Você vai observando a expressão das pessoas: incredulidade, admiração... E chega o fim do poema, seu ego ansiando por aqueles elogios clichês que aquecem o coração... e o que vem?

"Ahh, você deve estar apaixonado!"

Aí é demais. Aquele trabalho todo, pra alguém atribuir todo o seu crédito a uma paixão? Dá vontade de perguntar se o indivíduo acha que você não poderia ter inscrito por transpiração própria. O poeta vai a pé até a China atrás do seu poema e no fim foi tudo obra do Cupido. Vou dizer uma coisa, para apoio dos poetas e conhecimento dos leigos: a paixão não é isso tudo.

quarta-feira, 15 de outubro de 2008

Não basta

Agora que passaram as eleições municipais eu posso escrever em paz sem parecer que estou fazendo campanha contra ou a favor de alguém.




Então vim trazer um ponto de vista sobre os discursos que eu ouvi aqui e acompanhei pela televisão. Estou decepcionada com as mulheres candidatas. Profundamente. Com elas, com os jovens, com os negros e todos. Todos que já foram (ou ainda são) minoria na política me decepcionaram. Simplesmente porque (não estou generalizando!) não foram o bastante.


Fazer preconceito de pedestal não é meu tipo de campanha. Por exemplo, sempre achei que quando alguém, se candidata é porque tem algo a fazer no poder. Então acho um absurdo uma mulher se candidatar e dizer: "Vote em mim porque sou mulher, sou minoria na política e vou realizar uma mudança". Como se bastasse ser mulher! Não basta! Tem que ser uma mulher COM PROPOSTAS, alguém que vá FAZER em vez de SER. Mesma coisa para os jovens, porque alguns chegam lá e dizem: "Fala sério, ninguém merece, vote em mim". Fala sério digo eu!


Fazendo este tipo de discurso, as pessoas acabam propiciando que os outros critiquem dizendo que as minorias não têm capacidade de governo. É claro que têm! Mas para isso, precisam amadurecer.


Sobre as eleições nos EUA, fiquei chocada. As pessoas aqui se interessam pelas eleições de lá e esquecem dos candidatos daqui. E torcem pelo Barack Obama, não porque ele tem boas propostas (e tem), mas porque ele é negro. Somente por isso. Acho o máximo políticas internacional, mas isso só prova o quanto de preconceito ainda existe. Porque ele não é tratado como candidato respeitável, como igual. É tratado como exceção. E digo a mesma coisa das mulheres, pra ninguém dizer que eu estou sendo racista ou ofendendo minha classe.


Qualquer minoria nos partidos, sejam os jovens, os negros ou as mulheres tem plena capacidade de governar e exercer. Mas, para isso, têm que saber fazer mais do que simplesmente dizer: "Sou diferente, vote em mim". E falo isso na condição de mulher e jovem que sou.