quarta-feira, 31 de dezembro de 2008

Máquina do tempo

Já tem uns três anos essa história. No dia 23 de dezembro estava eu na fila (gigantesca) da lotérica para pagar umas contas. Eu costumo gostar de filas. Sério mesmo, eu acho interessante (claro, quando não tem mais nada para fazer). É incrível o quanto as pessoas já parecem predispostas a detestar filas. Talvez porque elas tenham sido taxadas como "perda de tempo". Enfim, eu cheguei na fila, tomando minha casquinha de sorvete, ouvindo música e esperei.

As pessoas olhavam o relógio a cada minuto. Todos com pressa, com presentes para comprar, ceia para fazer. Quando chegava a sua vez, pagavam, desejavam um feliz Natal entredentes para a moça do caixa e saíam com seus sorrisinhos vitoriosos olhando o tamanhão da fila que ainda tinha para pagar e pensando "que bom que eu cheguei cedo, bem feito pra essa gente aí".

Quando chegou a minha vez eu fui. Tirei os fones (o sorvete já tinha acabado faz tempo), entreguei o envelope e o dinheiro. A moça fez tudo e me entregou o troco e o recibo, cansada. Eu desejei feliz Natal. Mas foi sério mesmo. Feliz Natal. Assim, de verdade, com todas as sílabas. Eu quis passar para ela um pouco do meu descanso, um pouco de esperança, de tudo (clichê, não?). Mas a moça do caixa nem levantou os olhos e respondeu o pra-você-também automático. Botei os fones de ouvido e saí.



Essa história eu pretendia postar antes do Natal, mas não deu tempo. Até que veio a calhar. Troquem por ano-novo se quiserem. Esses clichês são importantes. Hoje vou vestir branco. Mas o meu branco não quer dizer paz: é uma tela em branco esperando as tintas e as cores do artista. Assim me ponho todos os 31 de dezembro: à mercê do artista, seja lá qual for o nome que você dê a ele. Deixai pintar.

segunda-feira, 15 de dezembro de 2008

Piadinha infame

Antes que vocês leiam a tal piada e me chamem de genocida ou o que seja, entendam que, longe de querer exterminar uma raça, quero demonstrar o descaso e a banalização das pessoas em relação à morte.

Hitler chegou ao Inferno e encontrou o Diabo. O ditador insistiu com o demônio que precisava voltar à Terra. O Diabo explicou:
_Mas só pode voltar à Terra quem tem uma missão inacabada.
_Mas eu tenho uma missão inacabada!
_Ah é? E você vai fazer o quê na Terra?
_Preciso voltar para matar 6 milhões de judeus e um gato.
_Um gato?
_Tá vendo? Nem você se importa com os judeus.




Declaro o Banquinho oficialmente de férias até passarem as provas do PISM na UFJF e o Natal. Voltaremos com a programação normal dia 26 de dezembro.
Grata,
Laila.

segunda-feira, 8 de dezembro de 2008

Visão realista do tempo

Porque o tempo é uma invenção da morte
Mário Quintana
Eu sempre tive medo de certos programas, poemas, livros, pensadores, pessoas e professores (e recentemente da Sorte do dia no Orkut) que ficam incessantemente dizendo: Aproveite a vida, viva como se fosse o último dia. Porque isto é completamente impossível. Se hoje fosse o último dia da minha vida, não teria estudado para o vestibular de manhã, trabalhado à tarde e postado no Banquinho agora à noite. Simplesmente porque isso tudo foi investimento no futuro.

Está na hora de nos desiludirmos do Segredo (MAIS??) e vermos que o importante é uma visão realista do tempo. Aproveite a sua vida do seu modo: pode ser que a minha felicidade plena não seja pular de bungee jump ou tomar um porre de champagne.

Quando você começa a levar a sério essa de "viva cada dia como se fosse o último" ou "a juventude é um tempo que não volta" corre o risco de ficar constantemente frustrado. (Caso a sua felicidade seja comer caviar, e é o que você faria antes de morrer, por acaso você tem dinheiro para fazer isso todo dia?).

"Amigos, não consultem os relógios", disse o amor da minha vida (Mário Quintana). Do contrário, poderíamos perder a doce recompensa de coisas simples como plantar para depois colher. Porque é exatamente o fato de que podemos esperar do futuro, que podemos ter fé no feedback do que fazemos hoje e de que podemos parar e olhar o tempo como se tivéssemos a eternidade ali, do nosso lado, que faz a beleza desta vida.

"Se a vida é tão curta como dizes, por que me estás lendo até agora?" MQ

Agora dois agradecimentos especiais a duas pessoas que perderam um pouco do suposto "último dia de vida" para prestigiar este humilde Banquinho, que nem é de madeira de lei: a dona Barbarella, que me presenteou com o primeiro selo do blog; e meu primeiro seguidor, o "homem da cultura" Sanger.

quinta-feira, 4 de dezembro de 2008

Não era.

Não podia ter sido. Helena relembrava o início. Sempre foram bons amigos, e ela sempre quis fazer parte da vida dele. Quantas indiretas, quantos chamados. Ela toda vestida de vermelho na porta do cinema esperando por ele. Ele não foi.
No início do ano, ele ligou. Quis se redimir do bolo. Foram. Helena passou a tarde pensando: "se ele não tomar uma atitude, vou agarrar ele". E Luis não tomou atitude nenhuma. E ela também não o agarrou. Foi só um selinho.
Meses de vai-não-vai, até que ela resolveu botá-lo na parede:
_Luis, você tem algum sentimento por mim além da amizade?
_Olha, Helena, não posso dizer que não...
_Mas também não pode dizer que sim, né?
_Não é assim... é só que... eu não sei. Eu não gosto dessa cidade, eu vou embora ano que vem, e não queria nada que me prendesse aqui.
Começaram a namorar naquela noite.
Desde o início ela nunca mais foi a mesma. Ela queria conservá-lo a todo custo. Só agora via que não queria conservá-lo: queria tê-lo. Porque embora fosse dela, ela viu que nunca o teve. Era o mesmo aperto no estômago todas as noites. Aliás, todo o tempo. Ele viajava, ele se atrasava, e para ela sempre tudo bem.
Não durou nem dois meses. Ele chegou de viagem diferente, ela percebeu. Luis falou que precisava conversar com ela. E ela já sabia. Marcaram para a tarde. Na hora do almoço ela não quis comer, foi tomar banho. Cortou as pernas ao se depilar, se vestiu toda de roxo e foi.
Ele foi educado. A mesma conversa do início. Helena não sabia nem o que sentir. Não era a dor de perdê-lo, porque ela nunca o teve. Foi mais como uma batalha perdida. Batalha não, guerra. Ele disse que queria que eles continuassem amigos, ela disse que não conseguiria.
Eles se viam todo dia no colégio. Primeiro, ela cumprimentava. Depois passou a baixar os olhos. Um soco no estômago. Era assim que ela sentia quando o via, quando falavam dele. Seu consolo foi que seria um artigo definido na vida dele: A primeira namorada.
Nos momentos de maior orgulho dela, alguém sempre tinha que mencionar o Luis. Ainda que não fosse por mal. Não houve um só dia em que ela acordasse sem pensar "ano que vem ele vai embora e eu nunca mais vou precisar olhar na cara dele".
E agora, lembrando de tudo, ela chegou a uma conclusão: "não podia ter sido amor. Porque eu não quero que ele seja feliz. Foi doença, não sei o que foi. Queria ser a águia pra comer o fígado dele todo dia." E ela pensava nas lágrimas invisíveis, procurando um motivo justo para chorar de verdade.
Não era.
Não era.
Não é.



Meu primeiro conto!!

terça-feira, 2 de dezembro de 2008

Formalidades

Se livro falasse, todo mundo chamaria de senhor.

quinta-feira, 27 de novembro de 2008

De capitais e orelhas

As vacas voam devagar, porque elas gostam é da paisagem
Mario Quintana

Já tem um tempinho que li em um blog [se o proprietário vier aqui me avise, mas realmente não me lembro qual foi] um texto no qual o moço dizia que gostaria de ler todas as orelhas de livros do mundo. Que esta seria a volta ao mundo dele.
Isto me lembrou de um ponto de vista que descobri depois de ler Júlio Verne. Eu iria detestar dar a volta ao mundo em 80 dias.
Não me entendam mal, não é que eu não goste de viajar. Mas eu acho que cada país tem tanto a se conhecer, explorar, descobrir, aprender, que uma passagem rápida [ou mesmo distante, no caso das aéreas] jamais seria suficiente para essa sede imensa que eu tenho do mundo. Seria como um único gole para uma garganta seca: só traz mais sede.
É a mesma coisa com os livros. Eu me imagino abrindo um livro, lendo a orelha, achando interessante e passando para o próximo. Não conseguiria. Nessa viagem superficial de orelhas e capitais, me perderia na vontade de ler o país inteiro, visitar o livro completo. E aquela saudade de certos livros e lugares que tantas vezes nos leva todas as férias à mesma cidade, e diversas vezes ao mesmo livro. Para quem quer conhecer tudo, seria perda de tempo.
Decorar passagens, descobrir lugares especiais além dos pontos turísticos: não há tempo, não há tempo!
Hoje, me imaginando no dia 81, de volta à minha casa, deitaria na minha cama, no meu quarto, lembrando da torre Eiffel e da de Pisa, da Estátua da Liberdade e das Pirâmides de Gizé e me sentiria incompleta. Talvez porque quisesse parar num café qualquer do Champs-Eliseés e olhar o tempo, porque gostaria de ter parado no pé da Esfinge até decifrá-la. Porque gostaria de ver tudo, e me contentaria com um único país que fosse. Se fosse para ser completo.
O mesmo para os livros. Ainda que fosse para ler somente um autor: ler tudo, entender, decorar.
Só o que é pleno me satisfaz.


Tá, não foi dos melhores que eu escrevi. O clássico da "boa idéia não devidamente aproveitada" mas dêem uma folga, minhas férias começam tecnicamente amanhã. Vai vir coisa melhor, garanto.

segunda-feira, 24 de novembro de 2008

Livro "miojo", livro "macarronada"

Outro dia estive conversando com uma amiga que começou a ler Gossip Girl. Isso me lembrou de uma comparação que a minha professora de português do ano passado fazia: os livros "miojo" e os "macarronada".
Imagine uma macarronada. Aquela mesmo, de domingo, que a vovó faz a massa três dias antes, deixa descansar, faz o molho, rala o queijo, tempera e serve na travessa mais bonita. Quando você come uma macarronada, ela te sacia, te preenche por completo. Não dá para comer macarronada todo dia, dá muito trabalho, mas vale a pena.
Agora imagine um miojo. 3 minutos para fazer, tempero pronto, massa pronta, tem sempre o mesmo gosto, até criança faz.
É a mesma coisa com os livros. Se quiserem exemplos para ilustrar, no cenário nacional um autor "macarronada" poderia ser o Guimarães Rosa ou a Raquel de Queirós. Autor miojo acho que todo mundo já pensou. É, ele mesmo.
No internacional o campo é mais variado. Nietzsche [agora está certo], Kafka, Saramago rendem boas macarronadas, enquando os "enlatados" americanos (aqueles, com líderes de torcida louras metidas, meninas feias que se transformam e coisas parecidas) são os cup noodles.
Mas será que é certo crucificar os leitores miojo? Será que dá pra viver só de macarronada? Cada um tem a sua opinião. Minha professora era a favor da macarronada total (desde que o aluno tivesse condição de apreciá-la como se deve). Até porque, tem gente que não dá o devido valor a um prato bem feito.
Nesse ponto divergíamos. Porque eu sempre acreditei que cada um deve ler o que quiser. Embora seja a favor do equilíbrio. Varie. Devore seu Espinosa e descanse lendo, sei lá, um Harry Potter. Detesto esse preconceito elitista contra best sellers.
"O povo só lê bobagem". Antes bobagem que morrer de fome. Este ano li desde o Diário da Princesa (o nono!) até Maquiavel, e não acho que estou entalada nem desnutrida.
O Segredo da leitura é ter lucidez suficiente para discernir, se é que me entendem.


Desculpem pelo abandono, semana de provas é sempre a mesma coisa: devaneios demais, tempo de menos (de muito menos!). Achei tão divertido misturar leitura e culinária que repeti a dose. Bon appetit!

segunda-feira, 17 de novembro de 2008

Redação "receita-de-bolo"

Bom dia, bom dia!
Hoje vamos aprender uma nova receita: redação!
Podem pegar seus bloquinhos e anotar: é sucesso garantido neste fim de ano.
Excelente para jovens em dieta de restrição de criatividade.

Tempo de preparo: Uma hora

Ingredientes:
Título: 1 sustantivo, artigos e pronomes a gosto.
Massa: 4 parágrafos grandes ou 5 do menor picadinhos em 30 linhas.
1 folha de resposta e 1 rascunho limpo.

Modo de fazer:

Unte a folha de resposta com duas margens de uns 2 cm cada.
A redação pode ser feita no seu sabor preferido, mas é bom consultar os convidados sobre o que eles preferem. Geralmente esta informação está em um livreto chamado Caderno de Prova.
Pegue o rascunho e bote 4 forminhas de parágrafo. Encha cada uma com sete linhas. Guarde as duas linhas que sobrarem para a camada de fianlização.

A primeira camada deve ser de um breve histórico. Faça uma breve descrição sobre o sabor pedido pela banca através dos séculos. Pode salpicar com uma ou outra citação. Quando não souber o ponto do início, pode usar um "muito se discute sobre" ou um "é grande a polêmica" para dar liga.

Na segunda forminha, surpreenda seus convidados cobrindo com um pouco de contexto atual. Passe um "nos dias de hoje" ou um "atualmente" e junte com as receitas que têm saído nos jornais e revistas que você compra e principalmente nos programas de televisão.

No Caderno de Prova existem algumas palavras, citações e textos que você pode usar na terceira forminha. Muito cuidado nesta parte. Escolha os seus preferidos, corte cada um, misture bem e bata em neve, para poder tirar o gosto dos textos da proposta.

Na quarta e última camada está o segredo do sucesso desta receita. Passe cuidadosamente um "Portanto, conclui-se que" e use alguns dos aromas da primeira camada. Não esqueça de decorar com uma solução bem bonita e dar uns ares verde-amarelos na forminha.

Passe a receita do rascunho para a folha de resposta, com cuidado para não derramar nas margens. Cubra com o título. Voilà!

Obs.: Guarde suas citações importadas, os convidados não costumam gostar. Não fique dizendo "eu isso, eu aquilo, eu acho": seja humilde!
Receita testada e já aprovada por diversas unidades de ensino superior no Brasil.


É favor citar a fonte se copiar. Muito grata, Laila.

terça-feira, 11 de novembro de 2008

Pneumotórax, falência múltipla dos órgãos

— O senhor tem uma escavação no pulmão esquerdo e o pulmão direito infiltrado.
— Então, doutor, não é possível tentar o pneumotórax?
— Não. A única coisa a fazer é tocar um tango argentino.
Manuel Bandeira

Não, não estou pensando em fazer vestibular para Medicina. É apenas mais um devaneio inofensivo.

Eu sempre quis morrer de velhice. Com uns 90, 100 anos, cabelo branquinho e dormindo. Acontece que hoje ninguém mais morre de velhice. É falência múltipla dos órgãos. Acho que os médicos devem achar um insulto dizer "morreu de velhice", afinal velhice não é doença. Mas com este nome tão bonito eles destruíram não só o meu projeto, como o de muita gente, aposto!

Semana passada (acho que foi) deu no jornal sobre a menina encontrada morta na mala em Curitiba. E logo depois de dizerem que ela foi espancada e violentada disseram: ela tinha ganhado um concurso de redação na semana anterior. Não me chamem de apelativa sensacionalista, mas fiquei triste de verdade. Porque fiquei imaginando aquela menina toda orgulhosa, exatamente como eu me sentia na mesma semana que ela, pelo mesmo motivo. Imaginei a mãe dela dizendo "boa noite, escritorinha" e ela com grandes sonhos de um dia realmente virar escritora e viver daquilo.

Ok, chega.

O que me veio à cabeça é que é tudo tão estranho. Eu imagino um poeta na rua sendo assaltado. Imagino: Grande Poeta é Atingido na Testa por Bala Perdida. Ou eles são realmente raridades ou são incrivelmente sortudos, afinal todo mundo só consegue imaginar escritores morrendo de amor ou de tuberculose. Temo pela vida dos imortais. E a sua e a minha também. Desculpem pelo que eu fiz vocês lerem desta vez: um texto mórbido para um assunto mórbido. Toquem um tango argentino para ele.

sexta-feira, 7 de novembro de 2008

Me perdoem a recente falta de devaneios. Os hidrocarbonetos são muito ciumentos, de modo que a culpa não é (totalmente) minha.
Bom, eu nunca entendi porque as pessoas levam realmente a sério tudo que eu falo, inclusive as ironias. Ou eu não sei ser irônica (bem provável) ou sou convincente demais. O fato é que ontem um menino da 5ª série veio falar comigo no intervalo da manhã:
_Ah, eu vi que você ganhou o negócio lá da redação.
_Pois é.
_Sobre quem foi?
_Foi sobre o Oscar Niemeyer.
_Você conhece ele?
_Conheço, ele foi lá em casa semana passada.
_Só porque você ganhou, né?
_É, ele gostou muito.
O menino ficou com uma cara de "ah, nada demais conhecer o Niemeyer".
Depois voltou.
_É sério?
_Não.

quinta-feira, 30 de outubro de 2008

Abstrato Armado

Revolucionário. Podem ouvir-se os ecos do bater de espadas, joelhos ao chão, gritos, ferro, sangue e fogo. Qual! O revolucionário em questão é um senhor de olhar sereno, que já conta cem anos e tem uma filha, cinco netos, treze bisnetos e quatro trinetos; que passou a infância jogando futebol, a juventude na boemia, formou-se arquiteto e exerce a profissão.

E ele amou tanto este mundo, este povo, estas formas, que deste amor nasceu um sonho: compartilhar essa maravilha igualmente com todos. Tornar a sociedade mais igual, mais justa, digna da bela natureza e do povo que nela habita. E para transmitir sua mensagem não foi necessária sequer uma gota de sangue. De fato, não precisou nem erguer a voz. Como mágico, encantou cimento e tijolo; e escolheu simplesmente o que fazia de melhor: arquitetura.

Se sua obra tivesse um som, seria bossa-nova. A poesia-elemento plástico emanando de seus olhos acostumados à sua terra – o Rio de Janeiro, com suas curvas de ondas, morros e mulheres – para seus croquis. Aquela busca incessante pela essência da beleza contida na forma natural. Rompeu com a implacável linha reta, julgadora, intransponível, e privou o poder da sisudez dos prédios carrancudos, quadrados. Armou-se de compasso e régua e pôs no papel a tradução do mundo harmonioso que sonhara. Amplo e leve, as pontas beijando o chão e espreguiçando-se graciosas e esguias a sustentar a construção.

Sempre acreditou na arte unificada, então encheu também a literatura, a ilustração e o design de móveis com seu estilo inconfundível. Mas foi na escultura que o protesto falou mais alto, que a ferida doeu mais fundo. A beleza das formas gigantescas pega o observador desprevenido: chocante exatamente por ser bela, falando de faltas tão graves. A desarticulação da América Latina, a exploração do povo negro, a ditadura militar, enfim, toda forma de opressão tornou-se veia aberta nas suas linhas. As máculas do passado expostas, ampliadas, como uma lição da História impondo-se implacável.

“A vida é um sopro”, disse ele. E continua soprando seu talento pelos diversos cantos do mundo. A brisa que vem do Brasil e passa pelas fronteiras na América, por Cuba, pela Europa e África. Arquiteto, comunista, escritor, desenhista. Pode chamá-lo como queira. Mas com a consciência de que está falando do homem que fez do concreto armado algo mais humano, abstrato; que revolucionou até o sentido de ser revolucionário: Oscar Niemeyer.



Vou mimar um pouco minha auto-estima agora. O texto aí em cima acabou de me valer o primeiro lugar (!!!!) no regional de redação da UBM Valorizando o Talento Brasileiro. Todo mundo tem o direito de ser metido de vez em quando, certo?
rsrsrsrsrsrs
...

quarta-feira, 22 de outubro de 2008

Carta aberta aos filhos de 1990-91

Sabe o quê? Às vezes eu acho a minha geração um saco. Vou dizer uma coisa: eu tenho vergonha da época em que nasci. Nós vimos tantos desastres, tantas invenções incríveis, tanta tecnologia, tudo tão fácil, tão perto, que nada mais tem graça.

Vocês querem saber de quem é a culpa? É lógico, é tão típico nosso querer culpar alguém (embora não seja nenhuma exclusividade dos nascidos pós-muro de Berlim). Não sei de quem é. Nossos pais viram a ditadura, viram as Diretas Já, viram o tal muro cair. E gritaram, levantaram bandeiras, usaram cabelo crespo e pintaram a cara. Os pais deles não eram tão acostumados com liberdade. Eles tiveram que consegui-la palmo a palmo.

E nós? Nos deram bem mais liberdade desde que nascemos, e o que fizemos com ela? Cobrimos com catchup e fomos para a sala ver TV. Foi tudo tão fácil que perdeu o valor. Depois de tanto tempo exigindo a participação nas eleições, hoje os jovens não querem tirar título ou votam em branco. 00 confirma.

Nunca vi gente mais apática. Quem tem ideologia é alien. Não é mais nerd, porque nerds são os alienados que passam 6 horas e meia no colégio e mais 5 em casa estudando. E são tão valorizados.

Geração platéia. Viramos uma meta-juventude sem metas. Nós não queremos mudar o mundo, nós desistimos do love and peace, nós abandonamos a luta de quem veio antes. Nós queremos o baile nos finais de semana. A cerveja, o cigarro ocasional (porque ninguém se assume fumante). Nós queremos nossa vaga na federal a qualquer preço. Dane-se o resto do mundo. Nós somos nada. Porque não somos nós, somos eu. Cada um por si. Não são mais os camaradas, a turma, a tribo. No singular sempre.

Não estou generalizando aqui, até porque eu não concordo com a maioria do que disse aqui. Acredito que se tiver alguém me lendo, também não concorde. Mas somos exceções e, como disse meu professor de História, elas só confirmam a regra.

Pois então, pra essa gente que se perdeu entre seus créus e céus, um apelo. Olha só como vamos entrar na História. Essa geração onde (quase) todos são os mesmos, e que apesar de tudo o que fizeram por nós continua vivendo tão, tão pior que os nossos pais.

sexta-feira, 17 de outubro de 2008

A inspiração suprema... e o bater com a cara na parede

Primeiro, a inspiração suprema: uma luz divina baixa na sua mente e você já sabe exatamente o quê e como vai falar. O poema perfeito, a obra-prima da sua vida... vai até cobiçando aquela cadeira na ABL...
Depois, o poema não sai. Quarta, quinta, sexta, "ah, deixa passar o final de semana", e o poema lá, ruminando devagarzinho, envelhecendo em barril de carvalho...

Aí, oito dias depois você toma vergonha, pega aquela bic (que sempre falha na hora), troca por outra, rasga uma página do caderno, senta e espera. O poema vai escorrendo - apesar de nunca, NUNCA ser aquilo tudo que você pensou. Bom, não importa. Vai chegando o último verso, e você já aliviado, pesando menos 532 quilos. Não era aquilo tudo, mas até que ficou bom.

Aí você trata o poema ungido com todo o respeito, dando o tempo para ele se rebelar na paz da sua gaveta até amadurecer, uns três meses depois.

Então, a glória! Mostrar para seus amigos/professor/namorado/subir num banquinho e ler na rua. Você vai observando a expressão das pessoas: incredulidade, admiração... E chega o fim do poema, seu ego ansiando por aqueles elogios clichês que aquecem o coração... e o que vem?

"Ahh, você deve estar apaixonado!"

Aí é demais. Aquele trabalho todo, pra alguém atribuir todo o seu crédito a uma paixão? Dá vontade de perguntar se o indivíduo acha que você não poderia ter inscrito por transpiração própria. O poeta vai a pé até a China atrás do seu poema e no fim foi tudo obra do Cupido. Vou dizer uma coisa, para apoio dos poetas e conhecimento dos leigos: a paixão não é isso tudo.

quarta-feira, 15 de outubro de 2008

Não basta

Agora que passaram as eleições municipais eu posso escrever em paz sem parecer que estou fazendo campanha contra ou a favor de alguém.




Então vim trazer um ponto de vista sobre os discursos que eu ouvi aqui e acompanhei pela televisão. Estou decepcionada com as mulheres candidatas. Profundamente. Com elas, com os jovens, com os negros e todos. Todos que já foram (ou ainda são) minoria na política me decepcionaram. Simplesmente porque (não estou generalizando!) não foram o bastante.


Fazer preconceito de pedestal não é meu tipo de campanha. Por exemplo, sempre achei que quando alguém, se candidata é porque tem algo a fazer no poder. Então acho um absurdo uma mulher se candidatar e dizer: "Vote em mim porque sou mulher, sou minoria na política e vou realizar uma mudança". Como se bastasse ser mulher! Não basta! Tem que ser uma mulher COM PROPOSTAS, alguém que vá FAZER em vez de SER. Mesma coisa para os jovens, porque alguns chegam lá e dizem: "Fala sério, ninguém merece, vote em mim". Fala sério digo eu!


Fazendo este tipo de discurso, as pessoas acabam propiciando que os outros critiquem dizendo que as minorias não têm capacidade de governo. É claro que têm! Mas para isso, precisam amadurecer.


Sobre as eleições nos EUA, fiquei chocada. As pessoas aqui se interessam pelas eleições de lá e esquecem dos candidatos daqui. E torcem pelo Barack Obama, não porque ele tem boas propostas (e tem), mas porque ele é negro. Somente por isso. Acho o máximo políticas internacional, mas isso só prova o quanto de preconceito ainda existe. Porque ele não é tratado como candidato respeitável, como igual. É tratado como exceção. E digo a mesma coisa das mulheres, pra ninguém dizer que eu estou sendo racista ou ofendendo minha classe.


Qualquer minoria nos partidos, sejam os jovens, os negros ou as mulheres tem plena capacidade de governar e exercer. Mas, para isso, têm que saber fazer mais do que simplesmente dizer: "Sou diferente, vote em mim". E falo isso na condição de mulher e jovem que sou.

domingo, 28 de setembro de 2008

Portinholas

Bateu uma saudade do ano passado, do teatro, do colégio, daquilo tudo.

Então, uma homenagem ao melhor grupo de teatro: Tá "assim" de gente querendo!!!

"Porta, portinha, portão
As portinholas da infância se abrem para o sonho
Patati-patacolá
Lá vem o pato para ver o que é que há
Pula carniça, pula corda
Pula a tristeza, que vai-se embora.
Espia na fechadura
Do outro lado tem um sorriso
É da menina com vestido de bolinhas!
No campinho de terra batida
Rola a bola de meia
Em meio a pés que desconhecem sapatos.
"Como é teu nome? Pode jogar!
A única diferença é do time de lá!"


Por trás destes sorrisos
Numa portinha bem fechada
Se esconde uma pobreza
Miserável, dolorida.
Nestes rostos sem nome
Nestas crianças sem pátria
Fundou domínio a fome, o trauma.
Nestes sorrisos escavados
Em rosto de alguém,
Em terra de ninguém
Nasceu a sina incerta
E se instalou para não sair.
Nestes olhos sem brilho
O reflexo é da visão longínqua:
Ela, a miséria; ele, o pai.
Ela, a mãe; ele, o destino.
Debaixo de um mesmo sem-teto
Na casa que não existe
Na família que falta
Na comida que não têm.

Como se quisesse fugir daquilo
O menino navega em seus sonhos
Por um rio de palavras
Com cacos de estrelas,
com pedaços de brincadeiras
Talvez com fome
Talvez sem nome
Sentado no chão
Com um pião na mão
Está o menino com suas ilusões.
É ali o próprio futuro sentado
A propria esperança à espera.
Esperança regente de um depois menos feio
De uma realidade menos cinzenta
De um mundo legislado só por crianças.


Onde branco contra preto
É só no jogo de xadrez.
Onde o único roubo
É de um beijo.
Onde a única guerra
É pra vencer o futebol.
Onde a única fome
É de brincadeira.
Onde a única sede
É de conhecimento.
Onde o único grito
É de gol.
Onde a única morte
É da boneca doente.
Onde a única ferida
É o tombo de bicicleta.
Onde a única lei
É a amizade incontida.
E mais não há,
Só por não precisar.
Porque a melhor medida do direito
É praticar sem medida
O amor e o respeito."


Por: Laila Natal e Lucas Larcher

sábado, 27 de setembro de 2008

Pachacúti



Primeiro de tudo preciso exibir a figura que nos valeu o seguinte comentário do professor de Geografia: "O de vocês eu nem precisei corrigir nada, eu olhei a primeira figura e arrepiei" (!!!!!).

Realmente, o calendário asteca é lindo. Mas eu vim falar de outro povo: os incas.

No meio das considerações sobre fim do mundo, novo Sol, etc de maias e astecas, me deparei com a visão completamente otimista dos incas: O fim do mundo é agora. Um papo técnico rápido: Os incas acreditam que o mundo se renova em ciclos de mil anos (sóis), e que entre um ciclo e outro existe uma época de inversão, um Pachacúti, que é como se fosse o "fim do mundo" temporário deles.

Pois é, eles acreditavam que com a invasão espanhola começou um Pachacúti e... não acabou. Exatamente: O fim do mundo é aqui e agora, e só vai acabar quando chegar o sexto sol. Incrível! Enquanto todos se preocupam com o futuro pior, os incas dizem que pior não pode ser, então tende a melhorar. Vamos com fé, e espero que o sol não demore muito.
"Mas é claro que o Sol
Vai voltar amanhã
Mais uma vez
Eu sei.
Escuridão já vi pior
De endoidecer gente sã
Espera, que o Sol já vem..."
Renato Russo

Vez das Humanas ^^


Adamastórico (do Gigante Adamastor, de Camões): Terrível, monstruoso.

Exemplo: A prova foi adamastórica / acontecimento adamastórico
As pessoas tornaram comum o uso de expressões matemáticas no cotidiano (ex.: zero à esquerda) é hora de colocar a literatura a par de tudo!

sexta-feira, 26 de setembro de 2008

Vendo as exatas de uma forma menos hostil =)


A vida é uma senóide

Cara de dipolo-induzido
Tipo físico "ácido graxo"

quinta-feira, 25 de setembro de 2008

De vestibulares e filósofos


Emergi dos estudos de química para falar com não-sei-quem que vem (ou não) aqui. Enfim, me lembrei de uma "conversa" que tive com o professor de Físca. No meio da prova os comentários sobre a questão 3 o fizeram observar que era pura lógica matemática e disse: "os maiores filósofos eram físicos".

Isto me lembrou de uma discussão que tivemos sobre este assunto, e eu disse: "Pelo contrário, os maiores físicos eram filósofos". Porque os filósofos viam todas as ciências como integradas, aprendiam e ensinavam pela experiência direta.

Eu tive vontade de dizer que os pensadores se remexeriam no túmulo ao vê-lo usar suas idéias para justificar uma prova. Se um filósofo visse o sistema educacional de hoje, sentiria vergonha.

Esse conhecimento formatado, as verdades tomadas como incontestáveis, obrigatórias para todos que querem ser alguém na vida são o oposto do que pregava qualquer filósofo. Os cálculos de Química e Física de hoje abandonaram seu intuito inicial: conhecer, explicar, entender e melhorar o cotidiano. Simplesmente porque são feitos de convenções (a entalpia é um claro exemplo). Não se fazem mais perguntas do tipo: como e por que isto acontece? Agora é: se acontecer, calcule a velocidade e o quanto acontece.
Sócrates já dizia: "só sei que nada sei". Ora, quem é dono do conhecimento absoluto para atribuir conceito 0 a 10 para a capacidade intelectual de alguém? Hoje, aprendemos sem descobrir, simplemente por aprender, sem ter o direito de pensar em discordar.

Tudo isto pode até não passar de um devaneio de uma pré-vestibulanda alucinada e revoltada com a semana de provas. Mas fica registrado, quem sabe alguém não concorda?

sábado, 20 de setembro de 2008

Tlazolteotl

No meio do meu projeto sobre a visão de mundo dos povos pré-colombianos, acabei me perdendo (propositalmente) na mitologia asteca. Fiquei impressionada, e não tenho palavra melhor para descrever a não ser SURPREENDENTE. No meio desta visão completamente inovadora, uma figura mais surpreendente ainda: Tlazolteotl, a deusa da sujeira.
Na crença deles, ela representava a força que emana de toda forma de "imundície": a luxúria, a trapaça, o pecado em si. E não só isto, é ela que absolve os pecados do povo. Foi isso o mais impressionante. Nunca tinha parado para pensar que a sujeira gerasse uma força, poderosa e motriz, comparável ao ódio, à paixão, etc. E essa força é tão poderosa que ela mesma se purga de si (redundante, não?).
Para o nosso mundo de hoje, uma Tlazolteotl seria extremamente útil. Em vez de aguardar uma força externa para libertar esse mundo sujo, a solução é usar essa força da própria sujeira para limpá-lo, como uma solução saturada para purificar a substância. Um exemplo prático: o dinheiro sujo desta política imunda poderia ser utilizado para obras públicas, tarefas de imposto. Quanta ironia: "lavagem de dinheiro".
Voltando aos astecas, foi um exemplo bem claro do quanto podemos aprender com os povos que chamamos de "não-colonizados", que na verdade são muito mais civilizados que nós, se virmos sua cultura figurativamente, respeitando o modo de pensar deles, ao invés de dizer que "os astecas falavam que o mundo vai acabar em 2012." Pesquise um pouco, vai ver que não tem fundamento com a ciência de hoje. Mas, se quiser levar fé nessas "teorias de medo", faça de modo útil: lembre de Tlazolteotl e vá fazer algo que preste ao invés de chafurdar no pessimismo.
Bom final de semana! (se alguém vier aqui)

sexta-feira, 19 de setembro de 2008


Quantas vezes já criei e deletei blogs... falta de incentivo, de público, de assunto, de tudo.
Só que desta vez criei por mim.
Se estiver disposto a ver um pouco com os meus olhos, seja bem vindo!
A porta está aberta e o sorriso é largo, venha de mente solta e abraço apertado!