domingo, 13 de dezembro de 2009

A roda viva da redação escolar

Não sei se fui a única a achar o tema da redação do Enem meio irônico. De fato é muito esquisito uma prova que já foi fraudada pedir "o indivíduo frente à ética nacional" como proposta. Mas até aí era uma só. Hoje fui abrir a prova da segunda fase da Uerj e estava lá "dê sua opinião sobre a cultura de transgressão das leis".
Hmmm... interessante.
Agora de repente parece que alguém está querendo promover a moralização dos vestibulandos através de composições escritas. Não deixa de ser um bom projeto, mas, sinceramente, o que será que estão querendo com isso? Com certeza não é para colher nossa preciosa opinião a respeito, porque eu quero ver quem é que conseguiria fazer caber "as informações contidas nos textos da proposta, os conhecimentos adquiridos na sua formação e suas reflexões pessoais" em 5 parágrafos somando 29 linhas (porque uma é do título) com introdução, desenvolvimento e conclusão sem fugir do tema. Em uma hora.
Não vou dar uma de rebelde sem causa aqui: as dissertações são importantes e têm valor como textos argumentativos que são. E mais ainda: vestibulares sem redação perdem muito de sua credibilidade. Mas a verdade é que pedir para o aluno colocar seus valores, seus conceitos de ética (ou da falta dela) no papel e daí atribuir nota de 0 a 10 para isso, não sei não, mas para mim já é abuso.

quarta-feira, 18 de novembro de 2009

Corcundas


"Nem toda feiticeira é corcunda,
Nem toda brasileira é só bunda"
Rita Lee

Quer saber? Eu acho que o debate sobre o conceito de dignidade feminina transcende em muito os vestidinhos. Transformaram a moça da Uniban numa semi-mártir do movimento feminista. Ora, façam-me o favor! Que história é essa de ela simbolizar a "nossa luta" ou "nossos direitos"? Nossos quem, cara pálida? Se a luta do movimento feminista hoje é pelo "direito" de usar nanovestidos, eu estou fora.

A atitude dos estudantes da universidade bandeirantes foi sem dúvida absurda. Vai dizer que eles nunca viram uma mulher com menos roupa ainda? Agora, daí a transformar a moça que em entrevista disse que o que queria era "ficar gostosa" em heroína é outra história.

Não me entendam mal. Todo mundo deve vestir o que bem entende, até porque o tempo do Jânio já passou e (que eu saiba) não tem nenhuma lei regulamentando o comprimento de vestidos em faculdades nem em lugar algum. Cada um sabe quantos centímetros de pano mede o seu respeito.

De fato, o "calor dos trópicos" (argumento mais usado pelos defensores das nanovestimentas) torna impraticável sair de casa de calça comprida no verão. Porém, o bom senso também mandou lembranças e as pessoas têm consciência de que não se pode trabalhar de biquíni nem sunga e que fica mal para um profissional chegar no serviço de shortinho e chinelo se você não trabalha de ambulante na praia.

O fato é que esse debate me parece muito mais machista que feminista. Afinal, mesmo no tal "calor dos trópicos" ninguém nunca fez um escarcéu desses para defender a ida de homens descamisados às faculdades.

E o mais aleatório de tudo foram os estudantes da UNB querendo atestar toda a sua superioridade cultural em relação aos da Uniban aparecendo nus em protesto.
Deviam oferecer uma vaga para a Geisy Arruda lá.
Ela também vai tirar a roupa.
Só que, diferentemente deles, ela vai ganhar para isso.

terça-feira, 10 de novembro de 2009

Falando difícil 2 - O vocabulário e o sentimento


Diferentemente da articulação do pensamento, o sentimento não precisa de vocabulário amplo para se manifestar. Pelo menos não um tipo: o sentimento "concreto". Estranho, não?

Como provavelmente a maioria vai lembrar, todo mundo classifica qualquer sentimento como "substantivo comum abstrato simples ou composto". A tia da 4ª série vai ficar orgulhosa. E além do mais está certíssimo. Mas tirando a classe gramatical e pensando somente nos sentimentos mesmo, eles poderiam ser classificados em dois tipos: o abstrato (ou descritivo) e o concreto.
Sem chavões, ok? Todo mundo sabe que a função do coração é bombear sangue e que a gente sente é com o cérebro mesmo. Como o que vem do cérebro é pensamento, o silogismo de que os sentimentos são um tipo de pensamento parece bem aceitável. Certo. Mas será que uma pessoa de grande bagagem lexical sente do mesmo jeito que uma que se restringe a uma simples frasqueira de vocabulário?

Aí é que está. O sentimento "concreto" é o que se materializa a partir de ações concretas. Recorrendo (como de costume) à literatura, temos que o Fabiano de Vidas Secas, por exemplo, tem um vocabulário pífio. Porém, possui uma sentimentalidade complexa. Seus sentimentos são baseados em coisas palpáveis. A admiração que ele tem por Sinhá Vitória é clara, mas em momento algum ele ou o autor citam esta palavra ou qualquer outro sinônimo. Fabiano admira sua mulher porque ela sabe fazer contas, "tem miolo" e é bonita. E isso tudo é bom. Ele gosta dela por esses e infinitos outros motivos, todos eles concretos. Tampouco o sertanejo de Graciliano Ramos expressa oralmente seu agrado. Suas manifestações são tembém concretas, ainda que mentais. Ficou complicado. São concretas porque todas teriam uma materialização possível, aconteça ela ou não. Por exemplo, recompensar a beleza da esposa (que ele vê) com uma roupa encarnada ou uma saia de ramagens (que existem).

Agora, quanto mais uma vocabulário uma pessoa adquire, com mais detalhamento pode descrever seus sentimentos (para si ou para os outros). Daí vêm os sentimentos descritivos, isto é, que são sentidos da mesma maneira, mas por serem decompostos e analisados ficam cada vez mais abstratos, e por consequência mais próximos da razão e mais distantes do instinto. O sentimento descritivo nem precisa ser exclusivo da pessoa: por exemplo, alguém que nunca foi traído pode ter noção da angústia (embora não senti-la por completo) ao ler Dom Casmurro. Várias situações que o indivíduo não viveu podem ser virtualmente sentidas ao ler uma descrição bem feita.

Portanto, o sentimento concreto é completamente independente do vocabulário, enquanto o abstrato torna-se mais e mais desenvolvido na mesma proporção que este, ficando - embora menos intenso que o concreto - mais amplo e mais compreensível.


"(...)Agora Fabiano percebia o que ela queria dizer. Esqueceu a infelicidade próxima, riu-se encantado com a esperteza de Sinha Vitória. Uma pessoa como aquela valia ouro. Tinha ideias, sim senhor, tinha muita coisa no miolo. Nas situações difíceis encontrava saída. Então! Descobrir que as arribações matavam o gado! E matavam."

Cap XII, O Mundo Coberto de Penas, Vidas Secas, Graciliano Ramos.

sábado, 31 de outubro de 2009

Falando difícil - O vocabulário e o pensamento


"O homem nasceu para aprender, aprender tanto quanto a vida lhe permita"
João Guimarães Rosa

Um vocabulário vasto não implica necessariamente em um pensamento vasto, porém um pensamento amplo exige um vocabulário amplo. Por vocabulário aqui entende-se o seu sentido mais simples: número de palavras conhecidas. De forma resumida, quanto mais verbetes se conhece, mais "coisas" se pode nomear e relacionar.

Provavelmente alguém já está pensando que, se determinado indivíduo conhece os objetos e os sentimentos, pode saber relacioná-los sem precisar conhecer seus nomes. Pode até ser, mas o limite do pensamento vai muito além do que se vê e do que se sente. Afinal, como explicar a uma pessoa o que é "direito" ou o que é "literatura" sem utilizar palavras?

Além do vocabulário, para articular um pensamento é preciso também um mínimo de gramática. Afinal, uma palavra só se encaixa na outra quando vem aquele batalhão de conjunções, apostos, objetos, etc. Gramática não para tolhir, mas para dar fluidez ao pensamento, para conectar, para tornar coeso.

Nos últimos tempos tem feito muito sucesso a teoria das "múltiplas inteligências". Só que grande parte dessas são "múltiplos instintos", como por exemplo a tão citada "inteligência futebolística" de Garrincha. Inteligência para mim é capacidade de formular pensamento próprio. Todo mundo nasce com a mesma inteligência, só que nem todos procuram ou têm condições de desenvolvê-la.

Como disse o mestre Guimarães Rosa, o homem nasceu para aprender. E quanto mais aprende, mais pode aprender, mais pode pensar. Quanto mais conhecimento se tem, mais conhecimento se produz, e é assim que a gente evolui. O autor da frase lá em cima, por exemplo, chegou ao ponto em que aprendeu tanto que para seu pensamento não bastava o vocabulário existente: ele precisava criar mais palavras para se expressar. Fica um trechinho dele pra remoer:


"Eu quase que nada não sei. Mas desconfio de muita coisa. O senhor concedendo, eu digo: pra pensar longe, sou cão mestre - o senhor solte em minha frente uma ideia ligeira, e eu rastreio essa por fundo de todos os matos, amém."

João Guimarães Rosa
Grande Sertão - Veredas

quinta-feira, 22 de outubro de 2009

Falando difícil


"Os limites da minha linguagem são também os limites do meu pensamento."
Ludwig Wittgenstein

Desde que li A Trilogia de Nova York, do Paul Auster, fiquei com um pensamento na cabeça: até que ponto o domínio da linguagem - ou a falta dele - interefere na mente, no comportamento e nas relações humanas. Há uns dois ou três anos eu tenho pensado nisso, e vira e mexe encontro algum texto falando sobre o assunto.
Semana passada terminei o Vidas Secas, do Graciliano Ramos, que não trata da articulação da língua, mas da vida sertaneja. Só que, no meio do sertão, Fabiano, Sinhá Vitória e os dois meninos são como magistrais exemplos do impacto que causa a falta de vocabulário no pensar e nas atitudes.
Para completar, no vestibular simulado do Pitágoras o texto que abria a prova de português era justamente um artigo do Cláudio Moreira de Castro (Os meninos-lobo, Veja, 08 de julho de 2009) a respeito das crianças que nasceram isoladas sem oportunidade de aprender a falar. Foi o empurrão que faltava.
A discussão deu tanto pano pra manga que eu resolvi fazer não um texto, mas uma série (até agora penso em três textos, mas acho que dá para diminuir ou aumentar dependendo das ideias) sobre o "falar difícil".
Espero que gostem!

domingo, 18 de outubro de 2009

O tal do verbivocovisual

A razão humaniza o homem, mas o que o eterniza é o sentimento. Na vida eu não sei, mas na arte é assim que me parece ser. A matéria de Literatura bimestre passado foi a poesia concreta, e não posso negar que ela realmente é diferente de tudo o que já vi antes. Palavras estranhas, coloridas, de diferentes tamanhos, espalhadas na página, às vezes até a ausência delas. Se faz pensar? Sem dúvida.

Um dia minha mestra falou que a gente pode até não gostar de determinado autor ou poema, mas o que mostra se o tal poeta tem qualidade ou não é o estranhamento que ele causa em nós. O que não pode é passar indiferente. Não posso dizer que a poesia concreta passou despercebida por mim - muito pelo contrário, achei até bem esquisita - mas nada me tira da cabeça que toda aquela rebeldia contra a forma, a cor, as fontes estranhas, não têm outra função senão disfarçar um vazio imenso, gigantesco, colossal de conteúdo e alma.

Os parnasianos foram o contrário: fizeram uma escultura maravilhosa de palavras, digna de um templo grego: a forma perfeita, a métrica exata, a rima, os versos trabalhados num poema oco. O mesmo vazio de conteúdo e alma. Talvez por isso até hoje todo mundo olhe o movimento parnasiano com certa antipatia. Quem geralmente se salva é o Bilac, justamente porque tratou dos sentimentos. Com aquele jeitão, em cima de um pedestal de mármore, não importa. Os sentimentos dele são os mesmos de qualquer plebeu.

A razão nos individualiza: é ela que nos dá a graça de sermos diferentes uns dos outros. Ela nos humaniza e nos torna grandes, significativos e poderosos.
O sentimento aproxima, coletiviza. Ele é igual. E justamente por isso eterniza determinada arte, pois o cidadão vê seu sentimento no poema, do jeitinho que ele sente: só precisava de um ser iluminado - o poeta - para transcrevê-lo.

O apego demasiado à forma - seja à perfeição ou à completa disgressão dela - é disfarce. A métrica é boa, a rima é boa, quando servem para enriquecer o conteúdo do poema, o sentimento do poema. O que não pode é deixar a alma em segundo plano para caber num verso decassílabo ou redondilho.

Até porque coca-cloaca do Décio Pignatari e o crisantempo do Haroldo de Campos são uma beleza, mas nunca vão ter a sustância da terra de um João Cabral de Melo Neto, a doce ironia das ruas de um Mário Quintana ou o pulsar desesperado do coração de um Álvares de Azevedo.


Para quem ficou curioso
http://www.poesiaconcreta.com.br/

quinta-feira, 15 de outubro de 2009

Crianças desaparecidas

Na segunda feira muitas crianças receberam presentes e abraços. Houve sorrisos, papel brilhante, cartões alegres. Muitas, não todas. Algumas crianças não: as crianças desaparecidas.
Essas crianças se contentaram com um sorriso indulgente, e talvez assistiram escondidas a algum desenho animado ou cantaram músicas da Xuxa no banho. Elas já sumiram há um bom tempo. A maioria dos pais já se desiludiu e parou de procurá-las e a quase unanimidade deles sente saudades.
Muitas delas sentem falta de casa, e algumas chegam a lembrar dos bons tempos passados com uma boa dose de lágrimas. Essas crianças trabalham ou estudam ou fazem as duas coisas. Talvez quem mais as procure sejam elas próprias. Muitas vezes elas só querem um colo quentinho ou um bolo de chocolate assando no forno.
As crianças desaparecidas somos nós.
As crianças que fomos não morreram: elas sumiram. Elas existem. Estão em algum lugar, brincando de Barbie ou jogando bolinha de gude.
Procura-se.
Procura-te.

sexta-feira, 25 de setembro de 2009

Soprando velinhas


É com orgulho e vergonha que eu venho anunciar o aniversário do Banquinho! Orgulho porque quando eu criei este blog eu nunca imaginei que ele duraria tanto, e também porque me sinto muito realizada escrevendo aqui e principalmente vendo que algumas pessoas parecem realmente gostar dos meus posts e vêm sempre sentar para me escutar. Já a vergonha é porque na verdade o blog fez um ano há mais ou menos uma semana, e eu vergonhosamente me esqueci da data. Mas isso pode ser superado (eu acho).

Então eu decidi fazer um post especial, no qual eu pretendo fazer o que sempre faço aqui: abrir meu coraçãozinho para vocês, queridos leitores. Só que desta vez não é sobre política, nem vestibular, nem literatura, nem filosofia, nem música: é sobre mim e o blog mesmo. E, naturalmente, sobre vocês também.

Há um ano e uma semana, uma menina do segundo ano do ensino médio resolveu criar um blog para ter uma desculpa para escrever tudo o que pensava. Não, não vou contar a história em terceira pessoa porque isso é ridículo. É que a gente muda e não sei o quanto eu ainda sou a mesma. Relendo os posts do ano passado eu vi o quanto passei a escrever diferente -e, por extensão, pensar diferente- neste tempo. O Banquinho veio crescendo junto comigo.

Vou aproveitar a ocasião e explicar por que diabos o blog tem este nome. Tudo começou numa feira de cultura do meu colégio quando eu estava na oitava série. Cada aluno ou grupo de alunos faz um trabalho e apresenta, e o meu trabalho foi... um banquinho. Todo mundo chegando com suas cartolinas, maquetes, experiências e tudo o mais e eu carregando um banquinho. Pequenininho, desses de apoiar os pés. Tinha uma mesa com vários livros de poesia e do lado dela eu coloquei o banquinho e esperei. As pessoas foram chegando e eu pedia para elas subirem no banquinho e declamarem um poema, ainda que fossem apenas alguns versos. E foi um sucesso maior do que eu esperava! As pessoas olhavam, desconfiadas, se faziam de rogadas e depois subiam e liam e falavam. Depois desse trabalho, quando eu saía na rua as pessoas diziam "olha lá a menina do banquinho!" e fiquei sendo isso aí mesmo.

Manter um blog é um desafio. No post "humildade" aí embaixo eu tentei explicar que escrever não é mole. Só que é extremamente gratificante. Eu me lembro do primeiro comentário, que foi de uma pessoa que eu nem conhecia! E depois outros comentários, de outros desconhecidos, tudo tão emocionante! Só bem, bem depois foi que os meus amigos foram descobrir o blog, e pouquíssimos chegaram a comentar aqui (as colegas Dora, que virou blogueira também, e Isabela). E os desconhecidos viraram amigos, tanto os que também eram blogueiros, como o Sanger, o Fábio, a Antônia, o Orochi, a Marina, o Márcio e vários outros, quanto os não blogueiros, como a Ana (a primeira comentarista), o Rafael mais alguns.

Comecei com o blog sozinha, pensando "o que vier é lucro". E o lucro foi grande. Hoje o Banquinho tem 14 seguidores (!!!), fiz bons amigos e ainda ganhei, se não a admiração, pelo menos o respeito, de várias pessoas. Nem sei se realmente mereci isso tudo, mas se hoje estou postando neste blog há 1 ano, é pelo menos 90% graças a vocês, que são os melhores, mais educados e mais cultos leitores da blogosfera (e eu acho isso de verdade!). 10% são meus, porque o blog não se atualiza sozinho, né?

Vocês fizeram o Banquinho crescer e fizeram de mim uma vestibulanda menos neurótica, e digo até uma pessoa melhor.

Vocês são o máximo! Muito obrigada!

domingo, 20 de setembro de 2009

Augusto e eu

Quando eu conheci Augusto (e isso tem uns 4 anos), eu, de cara, já não simpatizei com ele. Hipocondríaco, bebia muito, fumava mais ainda e falava o tempo todo de morte, de vermes, desgraças em geral. Lembro-me de dizer a muitas pessoas "que cara negativista, não gosto dele, não" e até de desviar os olhos se por acaso o visse. Juro que se ele não fosse tão velho, eu diria que ele tinha umas tendências a emo.

O tempo passou e eu parei de desviar os olhos e passei a ouvir o que ele tinha a dizer. Do quanto a vida é curta, a dor é grande e os amores são cruéis. E inicialmente eu discordei de tudo. Depois, só bem depois, foi que eu vi que não precisava concordar ou não com ele: era simplesmente uma questão de reconhecer que aquela era a verdade dele e respeitá-la.

Foi aí que eu vi que Augusto mexia comigo mais do que qualquer outro. Depois das palavras dele, eu pensava por muitas horas, e várias vezes chorei. E vi o quanto a verdade dele podia ser tão verdadeira às vezes.

Alguns dizem até gostar de Augusto, mas que ele é boa companhia somente nas horas de tristeza ou desespero. Eu já acho justamente o contrário: só se deve procurá-lo nos dias de sol, quando se está absolutamente bem resolvido com a vida e os amores. Primeiro porque, apesar de compreensivo, ele não é muito consolador e apresenta algumas ideias suicidas. Segundo porque ele sempre oferece bebida e cigarros nessas ocasiões, e eu não aprecio nenhuma das duas coisas.

Então, caro leitor, no seu dia de sol quando for encontrar Augusto, é muito provável que ele diga todas as coisas de sempre. E quando ele disser que a felicidade não existe você vai sorrir, apontando para si e dizendo "existe sim, olhe aqui" e ele vai balançar a cabeça descrente e acender um cigarro. Você vai voltar para sua vida e seus amores muito mais ciente da real existência deles e vai pensar "Augusto, seu tolinho, você não sabe o que está perdendo".
Não, ele não sabe. Mas graças a ele você sabe o que está ganhando.

Augusto.
Dos Anjos.
Poeta naturalista.
Nascido em 1884.


Para quem não teve a honra de conhecê-lo ainda: http://www.releituras.com/aanjos_versos.asp
http://www.jornaldepoesia.jor.br/augusto03.html

segunda-feira, 31 de agosto de 2009

Blog Day 2009


Ladies and gentleman, this is blog day 2009!! Este dia é dedicado para blogueiros all over the world conhecerem e divulgarem blogs alheios, para uma maior interação na blogosfera.
As regras são as seguintes: cada um deve indicar em seu blog cinco blogs alheios, de preferência que tratem de assuntos e culturas diferentes da sua.
Vou postar aqui então alguns blogs que visito sempre e que acho excelentes, cada um dentro da sua área específica.

Começarei com um blog projeto: o Livro sem Fronteiras, escrito pelo Fernando Monção, que tem o plano de transformar Valença na Cidade da Leitura. Não preciso nem dizer que apóio completamente.

O próximo contemplado é sobre entretenimento em geral temperado com muita cultura otaku: o Chamando o Coringa, do Marcus Orochi.

Apesar de ser muito suspeita para indicar este blog, faço-o mesmo assim e recomendo o Lamento de um Blue, da colega Dora, que fala de forma muito profunda de boa música, literatura e pensamentos em geral.

Consta também o D. Quixote em Valença, blog do Sanger, que apesar da tendência política oposta à minha discorre brilhantemente sobre os acontecimentos populares de Valença, do Brasil e também dos particulares.

Agora cito o Comuna Virabossa, que tem textos inteligentes e muito bem escritos sobre música e História, além da "cultura e contracultura" mantido pelos irmãos Virabossa.
Estão aí, todos devidamente aprovados pela moça do Banquinho, prontos para serem lidos pelos senhores. Façam bom proveito!

sábado, 22 de agosto de 2009

"Pega a faca e mata!"

Outro dia me deparei com o álbum mais ferrenhamente vegetariano que já vi. 95 fotos de pura militância anticarnívora. Quando cheguei à 40ª foto, já estava considerando a hipótese de me tornar herbívora até que ouvi o chamado de "quem quer hambúrguer!?" e fim da história.

Neste meu curto tempo de vida até agora já ouvi absurdos como "eu não como carne, só como picanha" e "eu sou vegetariana, mas como nuggets". Claro que isso dá o que pensar. As pessoas não comem carne por diversos motivos, algumas por gosto, outras pelo peso e muitas por filosofia de vida. Gosto e peso são problemas muito pessoais, então vamos à filosofia.

É comum ouvir grandes dissertações sobre as emissões de metano causadas pelas criações de gado mundo afora. Acontece que os aterros sanitários, onde é depositada a maior parte do lixo orgânico mundial, emitem muito mais metano. E o lixo orgânico, além de restos de carne, inclui também saudáveis e puros restos e cascas de vegetais e frutas. Ainda sobre o monstruoso aquecimento global, é importante dizer que os adorados computadores em que os respeitáveis vegetarianos divulgam suas idéias verdes são produzidos em sua maioria por empresas de capital norte-americano, sendo que os EUA nem assinaram o protocolo de Kyoto.

Outro argumento muito comum é a crueldade com os animais, e é aí que eu chego ao verdadeiro assunto do texto: a crueldade. A crueldade está cada vez mais cruel. Se hoje eu digo que não dispenso um bom churrasco, que o queijo não é a mesma coisa sem o presunto e que não tem palmito que substitua um molho à bolonhesa tem gente pronta para me chamar de assassina. Porém, muitos fecham os olhos para as crueldades cometidas nas touradas, nos rodeios, nos circos, nas rinhas de galo e nos reality shows que divertem todo o mundo.

Reality shows? É, eles mesmo. Afinal, o que poderia render mais Ibope que tortura humana, seja ela física ou psicológica? Que tipo de humanidade senta no sofá para assistir pessoas comendo olhos de cabra, embriões de pintinhos, peixes vivos e outros "alimentos"? Todos prontos para passar por cima dos seus escrúpulos, dos seus valores e dos seus limites para ganhar altas somas de dinheiro. E os filmes? As tropas de elite da vida? Tortura esgota bilheterias.
Crueldade.
E antes que venham com grandes discursos dizendo que a culpa é do capitalismo, que ele torna as pessoas selvagens, estejam os senhores leitores devidamente lembrados que as execuções públicas já eram atração há mais de 2 mil anos e que os combates entre cavaleiros divertiam a sociedade feudal.
A crueldade parece quase inerente. Se a humanidade não evoluiu a ponto de se tornar boa consigo própria, imagine tornar-se piedosa para com os animais. Antes defender a própria espécie! Se bem que, com essa crueldade toda, nem sei porque me dou ao trabalho.

quarta-feira, 12 de agosto de 2009

O Baú de Espantos e o PC

Se cada um de vós, ó vós outros da televisão
- vós que viajais inertes
como defuntos num caixão -
se cada um de vós abrisse um livro de poemas...
faria uma verdadeira viagem...
Num livro de poemas se descobre de tudo, de tudo mesmo!
- Inclusive o amor e outras novidades.
.
Invitatión au voyage, Mário Quintana em Baú de Espantos.
.
.
Quando Baú de Espantos foi publicado, em 1986, Quintana, os poetas e o mundo estavam preocupadíssimos com o quanto as pessoas renunciavam à "vida lá fora" em nome da televisão.
Pobre Quintana, pobres poetas, pobre mundo! Eles não esperavam pelo personal computer! Ou pelo menos não pelo sucesso que este faria. Nossos amados computadores agora são muito mais do que tvs: são também tvs e são livros e são rádios e são vitrolas, telefones, máquinas fotográficas, amigos e amores.
Bom ou ruim? Outros já falaram sobre isso mais e melhor que eu, então não vou perder meu tempo e o leitor também provavelmente já tem sua opinião formada.
Na verdade, me alongo à toa. Este poema é a minha desculpa. Tenho ficado muito tempo sem postar e fico me sentindo culpada. Mas é por nobre causa! É pela nobreza de um livro de poemas, de uma composição do Villa-Lobos e da companhia dos amigos.
Ó, leitor! Vá abrir um livro de poemas! Me sinto honrada com a sua companhia, mas não deixe seus poetas, seus músicos, seus amigos e amores para ficar no computador! Vá para eles! E quando estiver cansado ou tiver vontade, volte. Nos veremos de novo, ambos ainda mais repletos de poesia, de música, de amizade e amor.
Boa viagem.

quinta-feira, 30 de julho de 2009

Pandemia, pandemônio

Pandemônio: (sm) 3. Balbúrdia, tumulto

Somente na África, morre uma criança de menos de 5 anos a cada trinta segundos infectada pela malária. Estima-se que existam 18 milhões de pessoas infectadas com doença de Chagas nos países latino-americanos. Nos países em desenvolvimento, mais de 20% da população tem infecção contínua por giardíase.
Sabia?
Se sabia, provavelmente é vestibulando ou foi há pouco tempo.
Mas isto aqui não é um blog médico. O que acontece é o sensacionalismo. A nova gripe matou (estimativa!) umas 60 pessoas no Brasil e o álcool gel some do mercado, e todo mundo quer máscara e deve-se evitar multidões e aglomerados.
Por que este pandemônio?
As protozooses citadas no primeiro parágrafo atingem principalmente as populações pobres que vivem em condições pífias de saneamento e higiene. É por isso que não há sensacionalismo em cima delas: afinal, se a população já está morrendo mesmo por causa da fome e da violência, por que se preocupar com as doenças?
Enquanto isto, nas grandes cidades, as pessoas adiam seus intercâmbios e suas viagens internacionais e lotam as clínicas com medo da Influenza A, que já foi tachada de pandemia. E agora por causa da gripe há mobilizações gigantescas da OMS para desenvolver tratamentos, vacinas e conscientizar o povo.


Enquanto isso as crianças africanas vão morrendo, duas a duas, a cada minuto.

segunda-feira, 20 de julho de 2009

Falsos pudores

Pudor: sm 1 Sentimento de pejo ou vergonha, produzido por atos ou coisas que firam a decência, a honestidade ou a modéstia.
3 Pundonor, recato, seriedade.


Nesses programas "reality show", entre outros assuntos altamente filosóficos, fala-se muito em combater os falsos pudores. Por falso pudor o senso comum entende "uma atitude que você tomaria em casa ou entre seus amigos mais próximos e que não externa no meio da sociedade por vergonha". Há até quem diga que o falso pudor é um tipo de falta de caráter. E o pudor verdadeiro? Alguém sabe diferenciar um do outro? Nessa de "tirar as máscaras" as pessoas não abrem mão só do falso pudor: existe gente (e não é pouca!) sem pudor algum.

Levanto outra questão: e o pudor inverso? Gente que é por demais séria ou recatada em casa, entre os amigos, mas quando chega na sociedade tem que aprender a se soltar para não ser acusada de conservadorista ou falsa moralista. Eu já passei muitas vergonhas por ter vergonha. Já tive que me desculpar por não gostar de palavrão, já tive que justificar outras tantas vezes porque não gosto da dança do créu e até por causa de um post aqui no blog já tive que ouvir que gostosa é elogio sim!

Então é o fim dos "filtros"? Quer dizer então que é muito mais verdadeiro portar-se da mesma forma em todos os lugares, sem o mínimo de preocupação com a linguagem, com os gestos e até com as roupas? E olhe que pudor não é só a vergonha produzida pela moralidade e pelos costumes. Como a própria definição da palavra diz, pudor é também ter vergonha de atos que firam a honestidade.

Antes falso pudor que pudor nenhum. E digo mais: o "falso pudor" não é nem falso, pois nada mais é do que ter vergonha de ter certas atitudes em público. O verdadeiro falso pudor é fingir que se tem vergonha de algo que não tem.

O que falta neste mundo, neste país, nesta sociedade é uma boa dose de pudor. Vergonha na cara, se quiserem uma expressão mais direta. E isso para qualquer ocasião: seja para saber que nem todo mundo que vai à praia quer se deparar com um topless, que grande quantidade de mulheres não gosta de ser despida com os olhos, que nem todo mundo acha graça em piadas sujas, ou mesmo para não saber onde enfiar a cara quando se é pego fazendo algo que contrarie "a decência, a honestidade ou a modéstia".
Bom senso não basta. Tem que ter muito pudor.
Verdadeiro.

segunda-feira, 13 de julho de 2009

Catarse ha-ha-ha

Ridendo castigat mores

Existem vários tipos de humor. Humor barato, negro, inteligente, sujo e até o chamado "humor engraçado" como inventaram ultimamente. O humor é muito amplo, é necessário especificá-lo: este texto é sobre humor barato político brasileiro. O leitor naturalmente está pensando que humor político se classificaria melhor em "inteligente" que em "barato", mas é bom não confundir: é humor barato versão política. Brasileiro, pois não tenho vivência no exterior para saber como é por lá.

O provérbio latino na epígrafe quer dizer "rindo corrigem-se os costumes". Na comédia do teatro clássico, existia este processo de fazer rir para corrigir o senso comum. O humor era uma ferramenta política. Por meio dele, o cidadão enxergava defeitos e falhas da sociedade para depois corrigi-los. O que se vê hoje na maioria das charges, das publicações humorísticas e dos programas televisivos (maioria não é totalidade!) é a completa falência do sistema de rir para castigar.

Agora, o que se faz é rir para acomodar. O provérbio que melhor expressa é "só rindo para não chorar". É muito mais fácil banalizar (ou baratear) para consolar. Um povo anestesiado com humor barato se torna menos crítico. Dinheiro na cueca? Castelo escondido? Farra de passagens? HA-HA-HA. Seria hilário se não fosse trágico. E isso tudo é explorado que é uma beleza. E o povo ri. Ri sem castigar costume nenhum. Ri para não chorar. Ri sem protestar, sem questionar, sem mudar de atitude. Ri porque não tem jeito nem jeitinho que resolva.

E o mais triste (ou seria mais cômico?) é que os próprios políticos passaram a levar na brincadeira. Riem junto com o povo, da cara do povo, na cara do povo.
Ficou tudo tão engraçado que tem gente se esquecendo até de ficar sem graça.
Quer saber? Não tem graça nenhuma.

sexta-feira, 3 de julho de 2009

Posse

Decorar poemas é como catar conchinhas: as pessoas tentam de todas as formas se apossar de uma beleza sublime que não é sua nem pode vir de si, só para poder admirá-la quando lhes apraz e mostrá-la a quem possa interessar com ar de dono.




Obs.: O Banquinho está no jornal! O artigo sobre o novo ENEM está na edição 37 do Valença em Questão, que saiu na quinta feira. A edição está especialmente voltada para a Educação, e está disponível para baixar no blog do VQ (http://blogdovq.blogspot.com/).

domingo, 28 de junho de 2009

A sociologia e o caipvodka

Festa junina. Agora nas quadrilhas tem tango, tem música da Xuxa, tem música indiana, tem música do Michael Jackson (um minuto de silêncio). As caipiras agora usam cinta-liga e meia 7/8. O arrasta-pé virou batidão. E a batida e o quentão não dão mais lucro.
Como as festas de colégio ainda são familiares, resolvemos vender então algo mais familiar: caipfruta com guaraná para as crianças, com uma dose modesta de vodka para os adultos e fondue de chocolate. Mais para o fim da noite, vendo nosso lucro desaparecer, resolvemos vender a alma a vodka pura em doses. Vou tratar o texto como um relatório, isto é, sem opinião, só os fatos.
1 - Das quantidades:

Foram compradas 4 garrafas de vodka. As primeiras duas, em forma de caipfruta, demoraram seis horas para serem vendidas. As outras duas acabaram em 45 minutos.

2 - Dos preços:

Qualquer cidadão maior de 18 anos pode comprar uma garrafa de um litro de vodka por R$3,00 em um supermercado. As doses têm aproximadamente 60mL e são vendidas a R$2,00 cada. E acabam rapidinho.

3 - Dos comentários:

"Arrrrrgh mas isso é muito ruim. Me vê mais uma aí!"

"Ahn, o fondue engorda muito, né? Me vê dois caipvodkas então."

"_Quanto é o caipfruta?
_É dois reais.
_O que é que leva nisso?
_Morango, leite condendado e uma dose de vodka.
_Uma dose só?
_É, uma só.
_Poxa, mas dois reais é muito caro pra uma dose só! Você vende vodka pura?
_Vendo.
_Quanto é?
_É dois reais a dose.
_Ah então eu vou querer uma."


Se beber, não dirija.

terça-feira, 2 de junho de 2009

"Tá querendo"

Não entendo por que é que na nossa sociedade a mulher está sempre "querendo". Se um homem sai em camisa, está com calor. Se uma mulher sai de decote ou top, está "querendo". Se um homem vai ao baile funk é para se divertir. Se a mulher vai, é porque está "querendo". E o pior é que várias vezes são as próprias mulheres que dizem isto umas das outras.
Não vou fazer nenhuma dissertação a favor de tops ou bailes funk, pois não gosto de nenhuma das duas coisas. O fato é que a mentalidade machista já está tão enraizada que pensamos sem sequer questionar. Tem homem que acha que "gostosa" é elogio. O que é gostoso é comida, e tal sinestesia não me agrada nem um pouco.

Será que uma mulher que vai a um baile funk esta mesmo "querendo"? Será que por sair de minissaia ela dá a outrem o direito de compará-la a comidas e animais? Pode até existir quem goste desse tipo de comentário, mas não sei quem instituiu que isso é o senso comum e que qualquer um tem direito de mexer com uma mulher na rua. O pior é que não vale nem se revoltar. Imagina uma mulher abrindo um processo contra um homem que a chamou de gostosa. O juíz vai rir da cara dela.

Outra coisa que eu não entendo é como é que uma mulher que dança feliz da vida uma música que a chama de cachorra sai no tapa se você a chamar de cadela.

Entendo menos ainda por que é que um homem gostaria de ter uma cachorra por companheira.

Não entendo muitas coisas, mas uma é certa: nem toda mulher "está querendo". E a melhor forma de descobrir com certeza não é usar uma cantada barata.

domingo, 24 de maio de 2009

Orgânico não é vivo

E não venha me convencer que pirulito é fenol, mini-colméia é naftaleno e sol é benzeno porque eu não acredito em nada!

domingo, 17 de maio de 2009

Sandice

O que todos mais querem hoje é provar para Deus e o mundo que não são normais. A loucura está na moda. É novela, é filme, é orkut, é música, é tudo: uma negação absoluta da normalidade. Hoje em dia ninguém é aceito socialmente se não se declarar ao menos "meio maluco". Eu acho que as pessoas se desiludiram da normalidade. Eu vejo gente caçando sandices em tudo que é lugar para poder afirmar: "sou autista/esquizofrênico/transtornado/louco (ou coisa que o valha". Mas o que é isto, meu Deus?
Há uns vinte anos chamar alguém de louco era ofensa. As famílias em que realmente existiam casos de distúrbios mentais rapidamente se ocupavam em esconder aos olhos da sociedade tal situação. Hoje não: ser bipolar é um charme. Será que de algumas décadas para cá a pressão do mercado de trabalho, o stress ou a mídia fizeram uns 80% da sociedade enlouquecer? Creio que não.

Alguém instituiu "normalidade" como sinônimo de "padronização". Como padronização é um termo cada vez mais carregado de carga pejorativa, o que todos querem é fugir disto. Então acontece uma verdadeira "caça à doença", isto é, procurar qualquer ínfima diferença que os isole da massa. Acontece que sempre vai existir uma diferença. E isto é o que há de mais comum.

É lógico que eu sou contra o preconceito com os doentes mentais. Acontece que o que está ocorrendo é a perfeita banalização destas doenças. Ora, se todo o mundo se declara "meio esquizofrênico", será que um esquizofrênico verdadeiro vai procurar se tratar - e levar a sério este tratamento? Ou pior: será que não demora muito até o sistema de saúde estar abarrotado de pseudo-transtornados (que podem ocupar os lugares de quem realmente precisa)?

Que modinha de anormalidade é essa? Não há nada mais comum do que ter certas atitudes que fujam do que você acha que é "o padrão". Oh, meus amigos: somos perfeitamente normais. Espetáculos da lucidez. Absolutamente sãos.


Graças a Deus.

quarta-feira, 6 de maio de 2009

Descoberta




"Ninguém se apaixona por ninguém. O que as pessoas sentem é encanto pelo que são quando estão em determinada companhia."
Laila Natal
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Pintura: Narciso, de Caravaggio

quarta-feira, 8 de abril de 2009

Um banquinho na caverna

Eu, Laila Natal Miguel, a moça do Banquinho, por meio da presente deixo registrada a minha sincera indignação com o novo sistema de vestibular que está em votação. Primeiro porque se a intenção era facilitar a vida dos estudantes, estes deveriam ter sido consultados antes que qualquer decisão fosse tomada, já que são os principais interessados. Segundo porque se o infeliz aluno não tiver nota satisfatória em uma única prova, perde a chance de concorrer a cinco universidades e está muito sujeito a ter sua vaga preenchida por um concorrente de um Estado distante. Além do mais, os ilustres prestadores de vestibular que não possuem acesso domiciliar à internet correm o risco de terem suas vagas covardemente roubadas por gente que ficará plantado dia e noite em frente ao computador se transferindo para onde lhes aprouver.
Mais uma vez uma decisão de peso é tomada sem consultar os beneficiados e prejudicados, de modo completamente precipitado assim como foram as cotas.
Os senhores leitores sabiam que aluno quer dizer "sem luz"? (A=negação, luno= luz). Mais alienados e mais às escuras que nunca (ou alienados e às escuras como sempre?) nos sentamos para acompanhar a decisão que decidirá nosso futuro próximo (Outubro!!).
Bem vindos à caverna. Vamos sentar e assistir. Vou pegar um banquinho.

segunda-feira, 23 de março de 2009

Alimento


Os segundos são o alpiste do tempo.

sábado, 14 de março de 2009

O dia em que falsifiquei Drummond

O poeta se rasga pelo poema, e no final a paixão leva todo o crédito


Foi na oitava série. Depois de mais ou menos seis meses de aulas de Literatura, cheguei a algumas conclusões: 1) aquela seria minha matéria preferida para todo o sempre, amém. 2) os poetas são seres que conseguem tornar palavras imortais e 3) eu pretendia fazer a mesma coisa com as minhas.

Estas conclusões tiveram algumas conseqüências (com trema mesmo): 1) comecei a estudar desesperadamente para descobrir o que é que os poetas têm que eu não tenho e 2) procurar a solução mais simples para isto. E comecei a escrever mais também. E várias vezes meu orgulho falava comigo: "É, Laila, ficou muito bom. Isso podia ter sido escrito por um daqueles figurões." E eu acreditava. (Ah, o ensino fundamental...)

Até que um dia me ocorreu aquela frase ali em cima (que não coloquei a autoria de propósito) e eu a achei tão boa, tão boa que resolvi fazer um experimento: falsificar. E não podia ser de um escritor qualquer, tinha que ser um bem conhecido. Procurei um que pudesse dizer mais ou menos a mesma coisa e Drummond me deu tchauzinho. Hmmm boa idéia.

O passo dois era saber para quem eu iria lançar meu texto apócrifo. Não podia ser um leigo. Tinha que ser alguém com vasto conhecimento. Se é para testar, que seja algo bem feito. E o mais importante: esta pessoa não pode ter acesso à internet, pois senão ela poderia postar a citação e aí não tem mais volta. A pessoa perfeita veio até mim: a melhor professora do mundo, que me dava aula de Literatura (aquela do livro miojo e macarronada).

O plano estava completo, era só esperar a ocasião. E ela aconteceu até bem cedo. Lancei a frase. Tremi na base. Na hora pensei que poderia ter escolhido uma outra professora qualquer, não a mestra suprema. Já pensou se ela descobre? Vergonha eterna e absoluta. E agora, José?
Mas... ela caiu!
Até agora não creio nisto. Não só caiu como disse "Esta eu não conhecia, mas realmente só podia ser do Drummond mesmo!" Glória eterna e absoluta. Escrevi algo que poderia ser do Drummond. Incrível. Sou imortal. Vou pleitear minha vaga na ABL. Paulo Coelho que se cuide.

Naquela noite eu tive um sonho memorável. Eu estava atravessando a rua para chegar à ABL e tropecei numa pedra no meio do caminho. Eu caí de cara no chão e quando estava levantando vi uma flor no asfalto. A rosa do povo. Ela era igual à ilustração da rosa do Pequeno Príncipe.

A rosa me olhou com uma indignação de dama ultrajada e disse: "O poeta se rasga pelo seu poema, vem uma estudante qualquer e acha que faz grande coisa. Para ser imortal, não basta imitar um imortal de verdade, tem que ser bom o suficiente para alguém querer imitar você."

Fiquei olhando para aquela flor com ódio, medo e nojo. Lembro-me de responder que estes poetas são meus e depois calar, reflexiva. A rosa tem razão. (Estaria eu ficando louca?)

Acordei para a escola com remorso, e naquele dia nem tive coragem de prestar atenção na aula de Português e levei o livro que estava lendo (O nome da Rosa!) para me desviar. Posso ter me arrependido da farsa, mas contar também não contei. O que até é arriscado, considerando que minha professora costuma vir aqui. Bom, isto não vem ao caso. Naquela noite sonhei que estava conversando com o próprio Drummond. Não me lembro dos termos exatos. Só sei que ele me perdoou e disse: Se penetrares surdamente no Reino das Palavras vais encontrar muitos poemas que esperam ser escritos.
E eu me sentei aos pés do imortal, cheguei mais perto e contemplei as palavras.
Os links no texto são para os poemas a que fiz referência no decorrer do texto, para quem ainda não conhece Drummond ou conhece e quer lembrar. Um poema de um imortal de verdade faz um bem danado à alma.

terça-feira, 10 de março de 2009

M.A.P. - O modesto-palanque

O modesto-palanque é especial. Ou melhor, pode até ser que ele não seja especial, mas com certeza é o que ele acha que é. Imagine um político em um palanque. A partir do momento em que ele sobe naquele palanque, o mundo gira em torno dele. As qualidades são exaltadas ao máximo, os defeitos, escondidos, varridos, soterrados. E aplauso e público e fotos e imprensa e luzes e holofotes e confete e caviar.
É assim que o modesto-palanque vive. Diferentemente dos modestos-holofote, ele nunca admite seus defeitos (aliás, que defeitos?). Ele não precisa da falsa modéstia dos modestos-confete e muito menos da modéstia polida dos modestos-caviar. Ele está acima disso tudo. Acima da modéstia, acima do bem e do mal e, principalmente, acima dos outros.
Conviver com alguém desse tipo pode ser extremamente difícil ou extremamente engraçado: tudo depende de como você vai tratar a questão. Supondo que seu professor seja um modesto-palanque. Ele realmente vai acreditar que a matéria dele é a mais importante e que as demais são apenas "acessórios". E ele nem vai se irritar se você disser o contrário, pois ele tem tanta fé de que é verdade que vai levar na brincadeira.
Até hoje não sei se o modesto-palanque quer se afirmar ou realmente se acha aquilo tudo (creio que é a segunda opção), mas o fato é que ele, mais que todos, sempre deixa a modéstia à parte.

Um experimento divertido: se divirta junto. É o jeito.


Com este texto, fecho a M.A.P., embora nada impeça de um dia eu encontrar um novo tipo de modesto e contá-lo. =) Espero que tenham se divertido.

quinta-feira, 5 de março de 2009

Reniversário

Aniversário é mais um adeus obrigatório para a criança de fora e um olá opcional para a criança de dentro.

O Banquinho está vivo e respirando novamente! Esta semana a modéstia parte e mais postagens virão (espero!). Não me abandonem!

quarta-feira, 11 de fevereiro de 2009

Meu avô e o poeta

De muito tempo eu não entendo esse meu amor profundo pelo Mário Quintana. Não me entendam mal: é um amor familiar, como se ele fosse o avô velhinho, e eu, a netinha aprendiz. Pode ser que seja pelas palavras que ele usa, muitas vezes as que se repetem em muito do que eu escrevo: estrela, sonho, passarinho, catavento... Pode ser que seja pelo jeito tão simples dele de passar as coisas pelos poemas. Não sei. Quando me deparo com algum poema dele, eu paro o que estiver fazendo, respiro e começo. Quando acabo, nunca tenho comentários: é apenas um suspiro. Como alguém que acaba de emergir de um mergulho muito profundo.

Outro dia a minha mãe fez uma observação que eu, incrivelmente, não tinha reparado: ele é a cara do meu avô. A mesma careca, as mesmas rugas, as manchinhas, o mesmo olhar de quem já viu e sofreu muito na vida e hoje não se detém mais a isso. O nariz, as rugas, tudo! Meu vô Delso: igualzinho.

Meu avô é um homem simples. As atividades dele são as mais frugais: sapateiro há mais de 50 anos, pesca sempre que pode, cria um milhão de passarinhos (exagero meu, claro, mas quando eu era menor era assim que parecia). Ele sempre se lembra de tudo: o queijo da minha mãe, o jornal de domingo para mim, a vagem que o meu irmão adora. Ele é casado com a minha avó também há mais de 50 anos, tem os mesmos amigos desde sempre e não abre mão da cervejinha na companhia deles em todo jogo do Botafogo. Ele senta sempre na mesma poltrona. Ele está doente.

Eu passei a ver meu avô como um poeta. A vida dele, tão absurdamente simples, chega a ser um poema vivo. O Mário Quintana colocou no papel toda a fugacidade da vida e a beleza das coisas simples dela. Cultivou um montão de palavras para falar sobre os passarinhos, plantas, peixes, estrelas e sonhos. Meu avô cultivou os próprios passarinhos e plantas, pescou os peixes e muitas vezes me mostrou estrelas e sonhos. Meu avô, que nunca escreveu um verso na vida, é para mim tão poeta quanto o príncipe dos poetas brasileiros.
Meu avô, o poeta.



Meu avô se internou ontem com problemas respiratórios. Você, que está aí lendo, se tiver alguma crença, peço que reze por ele. Para mim vai ter um valor enorme. Obrigada.


(13/02)Gente, meu avô vai ter alta hoje, obrigada pelo apoio de vocês!

quarta-feira, 4 de fevereiro de 2009

Axioma

Nada é tão simples que não possa ser complicado.



A Física não se cansa de provar este meu axioma que, por sinal, foi citado hoje numa aula desta matéria. A reação do professor? "Boa frase, é de alguém?" "É minha" "O seu mal é a modéstia."
Pois é.
A M.A.P. volta no próximo post com o modesto-palanque.
=)

segunda-feira, 26 de janeiro de 2009

M.A.P. - O modesto-holofote

Garanta seu entendimento, leia a abertura da série primeiro.

O modesto-holofote gosta de aparecer, sabe disso, e não está nem aí. É um tipo que acha hipocrisia a modéstia falsa. Quando elogiado, agradece; quando chamado a fazer algo que sabe, vai. Se fala bem, vai fazer um discurso. Um exemplo vivo é a própria blogueira que vos escreve.

Vai ser mais complicado manter a minha parcialidade ao falar da minha classe, mas farei o possível para colocar a modéstia à parte. Um modesto-holofote tem consciência de suas qualidades e defeitos, embora se sinta meio machucado ao falar destes últimos. Não que ele não os reconheça, apenas não gosta muito de ouvi-los pelas outras pessoas. Ele recebeu este nome porque gosta de atenção, e nada como um bom refletor para consegui-la.

As pessoas que têm essa característica costumam causar péssimas primeiras impressões, e quando fazem um novo amigo o bordão "nossa, quando te conheci achava que você era nojento!" é um clássico. Geralmente são autoritários e têm mais dificuldade para trabalhar em equipe. São adeptos da filosofia do "se quer perfeito, faça você mesmo" e levam a sério. Muitas vezes a ponto de fazer sozinho um trabalho para 10 pessoas por falta de confiança no trabalho alheio.

Mas não tenham preconceito, por trás de um modesto-holofote não há nada mais do que uma pessoa que quer aparecer por seu próprio mérito, e não por negação dele. Esse tipo costuma ter uma boa auto-estima, porém frágil. São confiantes ao se afirmar e sabem o que fazem, mas basta ouvir uma crítica para que se desmanchem em defesas.

Na minha [humilde] opinião, este é o melhor e mais honesto tipo de modesto.



Ops, não me contive.


Mais M.A.P.? Conheça os amigos modesto-confete e modesto-caviar

terça-feira, 20 de janeiro de 2009

Nós, os imortais

Algumas vezes na minha vida (e não foram muitas, dada a minha curta existência por aqui) eu tive uma sensação esquisita de História. A mais marcante foi em 2001. Passei por outras antes, mas foi só na terceira série, com a maturidade impressionante de uma menina de 9 anos, que eu passei a ver as coisas de outro modo. Naquela manhã de setembro eu tinha faltado o colégio porque tive febre, e no meio do meu desenho começou a passar prédio caindo, avião, árabes barbudos.

Depois eu fui vendo outras coisas, sempre com a mesma impressão: eternidade. Acabar de ver algo bom ou ruim que vou poder contar para os meus netos e ver a carinha deles igual à que eu sempre fiz quando ouvia meus avós e bisavós contarem grandes fatos do passado. É algo impressionante, que dá uma sensação de imortalidade.

Hoje foi uma sensação dessa. É claro que vocês já sabem porque. Eu procurei me manter imparcial nas eleições americanas, e várias vezes fui indiferente ao Obama ou à vice escandalosa do McCain. Mas hoje, no juramento da posse, independentemente da qualidade de governo que ele faça daqui por diante, vi que o cara já virou imortal. E nós com ele. Nós vimos.
Yes, we saw.


Obs.: A M.A.P. não acabou, semana que vem tem mais. Só quis fazer do Banquinho um pouco imortal também.
=)

quarta-feira, 14 de janeiro de 2009

M.A.P. - O modesto-caviar

Para ler a abertura da série clique aqui

Vocês já ouviram falar da gauche-caviar, a "esquerda festiva" francesa? Pois é, hoje vamos falar do modesto-caviar. O modesto-caviar, assim como o modesto-confete, é adepto da falsa modéstia. A principal diferença entre estes dois tipos é o interesse. Enquanto o confete busca a aprovação de todos e elogios, o tipo em questão só quer ser considerado educado. Simples assim.

O sujeito aprendeu a vida inteira que querer aparecer é errado, que é falta de educação. Então, nada mais óbvio do que ser modesto até a raiz dos cabelos. O modesto-caviar não só nega suas qualidades, como também admite seus defeitos (mesmo que isto acarrete situações embaraçosas).

Por exemplo, nosso estimado amigo é obeso. Ao estar num grupo de amigos, vai sempre citar seu peso, geralmente para parecer engraçado. Ele sabe muito bem que ninguém vai dizer "ah, que isso! você está ótimo!". E ninguém diz mesmo.

O modesto-caviar é inseguro, completamente inseguro, e tem péssima auto-estima. Pode até ser que pense: "bom, já que não tenho qualidades para simpatizarem comigo, vou fazer todo mundo simpatizar com meus defeitos". E há duas variações: o que busca pena e o que busca risos, sendo que este último costuma ser mais bem aceito nos círculos sociais.

Desta vez não vou propor experimentos divertidos, porque acho que brincar com gente de baixa auto-estima pode ser desagradável para os dois lados. Ele quer atenção, não para aparecer, mas sim para ser aceito e se sentir querido. Faça por onde, né?


Mais M.A.P.? Leia O modesto-confete

quinta-feira, 8 de janeiro de 2009

M.A.P. - O modesto-confete


Colegas, isto é uma série. É bom ler a abertura primeiro. [clique]


Este é um tipo bem comum. O modesto-confete é, antes de tudo, orgulhoso e inseguro. É aquele que tem plena consciência das suas habilidades, mas não tem segurança o suficiente para admiti-las.

É simples. Vamos supor que o nosso amigo em questão saiba cantar. Agora, imaginemos uma festa. Todos pedem para que ele cante, mas não há meios de fazê-lo cantar. As pessoas dizem “ah, você canta tão bem, canta só um pouquinho!” e ele, rogado, responde “Cantar?! Eu? Com essa voz de taquara rachada?”. A chuva de súplicas e elogios que se segue é o alimento perfeito para o orgulho dele.

O modesto-confete é tão orgulhoso, que tem medo de arriscar-se mostrando suas habilidades. Ele sabe que talento assusta e afasta as pessoas. Então, resolve se esconder atrás de uma capa de falsa modéstia para buscar a aprovação de todos.

Não se engane, ele não é um falso-modesto comum. Não, ele tem um objetivo com a falsa modéstia dele: a aprovação de todos. Ele é aquele que sempre quer se dar bem com todo mundo. É exatamente porque ele é tão orgulhoso e inseguro que ele precisa de elogios constantes. E a melhor forma para consegui-los é, lógico, negar o talento. Assim, pode ser aclamado sem parecer arrogante.


Um experimento divertido: tente não dizer nada quando ele se fizer de rogado. Não concorde nem nada (ele pode se ofender!), só fique quieto e espere. Pode ser que a pessoa se toque.
Ou não.

domingo, 4 de janeiro de 2009

M.A.P. - Modéstia à parte

Oh, não aguardes, que a madura idade
Te converta em flor, essa beleza
Em terra, em cinza, em pó, em sobra, em nada.

Gregório de Matos


Fogueira das vaidades. Não há nada melhor para descrever este "fenômeno". Fogueira é uma figura interessante. Dá a entender algo efêmero, que se consome e termina como cinza. A vaidade fútil, aqui entendida como falta de modéstia, não tem melhor fim do que o fim propriamente dito. Convertida em nada.

Calma. Não vim dar uma de moralista condenando a falta de modéstia, muito pelo contrário. Ao longo da estrada fui encontrando e vendo e lendo sobre gente e suas dúvidas sobre a modéstia. Não há regras escritas que expliquem de que forma a modéstia deve ser usada, etica e educadamente; de modo que as pessoas se sentem confusas quanto a isto e não sabem o que fazer.

Daí tirei a idéia de começar uma série - a M.A.P. - que conte um pouco dos "tipos" que a gente encontra por aí. Vai ser divertido, e pode ser que a carapuça sirva em muita gente. Não esqueçam de voltar para conferir!