terça-feira, 14 de junho de 2011

Medieval

A imagem que estão pintando da feminista hoje é solitária, amarga, feia, de cabelo desgrenhado, roupas estranhas e verruga no nariz.

Só falta um chapéu de bruxa.
E uma fogueira.





16 de junho
Ps.: Agora além do blog estou alimentando um tuíter. Quando tiverem um tempinho, passem por lá! http://twitter.com/#!/60sLaila
Até mais!

quinta-feira, 2 de junho de 2011

Grunhido

"Não tenho nenhum sentido político ou social. Tenho, porém, num sentido, um alto sentimento patriótico. Minha pátria é a lingua portuguesa. Nada me pesaria que invadissem ou tomassem Portugal, desde que não me incomodassem pessoalmente. Mas odeio, com ódio verdadeiro, com o único ódio que sinto, não quem escreve mal português, não quem não sabe sintaxe, não quem escreve em ortografia simplificada, mas a pagina mal escrita, como pessoa própria, a sintaxe errada, como gente em que se bata, a ortografia sem ípsilon, como escarro direto que me enoja independentemente de quem o cuspisse."
Fernando Pessoa.
Em: O livro do desassossego

Tomei a liberdade de postar o parágrafo do mestre Pessoa de acordo com a otrografia vigente no Brasil. Radicalismos à parte, muito me orgulha falar português. E mais ainda que seja essa minha língua nativa. Fico decepcionada, então, com o descaso com que tenho visto meu idioma ser tratado. Não falo do português mal escrito, que disso vou falar depois. O que estou vendo é um desprezo total não só pela forma de escrevê-lo, mas pela língua em si. Digo, pela ideia de falar português. É como se a língua portuguesa fosse um dialeto de segunda categoria, inferior aos idiomas das grandes potências, como o inglês ou o francês.
Encontrei recentemente uma professora que, encantada, dizia haver uma faculdade de Direito no Brasil em que os alunos liam apenas textos em inglês, espanhol e alemão até o quarto período, só começando a ler alguns em português a partir daí. Dizia isso argumentando que assim a faculdade preparava melhor seus alunos.
Vi também uma certa famosa justificando erros grotescos da filha, dizendo que a mesma tinha sido "alfabetizada em inglês". Não consigo ver outro motivo além do exibicionismo para alfabetizar em inglês uma criança que vai ouvir e falar português em sua casa, em sua escola, entre seus amigos e sua família. Parece justo que se fale um português pífio, desde que se tenha um inglês fluente e fale mais uma ou duas línguas.
Pelo menos para mim, é melhor saber um idioma decentemente que três de forma rasa. Já falei aqui minha opinião sobre o vocabulário e o pensamento. E o importante não é só pensar, é exprimir esse pensamento.
Quanto ao português escrito de forma não ortodoxa, minha humilde opinião é a seguinte: ele é aceitável quando falado por quem não teve a oportunidade de aprender a norma culta e em licenças poéticas. Fora isso, poder aprender e não querer fazê-lo é ignorância. E mais ainda é aprender e continuar falando e escrevendo da mesma forma que antes.
Já sobre a tão difundida "linguagem da internet" e seus axus, naums, kzas e afins só posso dizer o que Saramago já disse: "De degrau em degrau, vamos descendo até o grunhido".

Essa valorização da ignorância acaba por desvalorizar o que a língua tem de melhor. De tantas bandeiras erguidas contra os palavras rebuscadas, eis os clássicos renegados e tachados de "velhos, prolixos e distantes da realidade". Mais: qualquer um que escreva uma sentença mais longa ou use uma palavra diferente vira pedante, apelativo.
Me lembro de certas apostilas preparatórias para as redações de vestibular dizendo que a banca não via com bons olhos redações escritas "fora do padrão de vocabulário de um jovem". Me pergunto que espécie de padrão estão esperando.
A língua é viva sim. E passa pelas suas transformações no decorrer do tempo. É o amadurecer natural do idioma. Não dá é para reconhecer as doenças passageiras e as cirurgias plásticas radicais pelas quais ela vem passando como parte dessas "transformações naturais".
Assumo meu conservadorismo. Já podem atirar-me as pedras.