domingo, 17 de maio de 2009

Sandice

O que todos mais querem hoje é provar para Deus e o mundo que não são normais. A loucura está na moda. É novela, é filme, é orkut, é música, é tudo: uma negação absoluta da normalidade. Hoje em dia ninguém é aceito socialmente se não se declarar ao menos "meio maluco". Eu acho que as pessoas se desiludiram da normalidade. Eu vejo gente caçando sandices em tudo que é lugar para poder afirmar: "sou autista/esquizofrênico/transtornado/louco (ou coisa que o valha". Mas o que é isto, meu Deus?
Há uns vinte anos chamar alguém de louco era ofensa. As famílias em que realmente existiam casos de distúrbios mentais rapidamente se ocupavam em esconder aos olhos da sociedade tal situação. Hoje não: ser bipolar é um charme. Será que de algumas décadas para cá a pressão do mercado de trabalho, o stress ou a mídia fizeram uns 80% da sociedade enlouquecer? Creio que não.

Alguém instituiu "normalidade" como sinônimo de "padronização". Como padronização é um termo cada vez mais carregado de carga pejorativa, o que todos querem é fugir disto. Então acontece uma verdadeira "caça à doença", isto é, procurar qualquer ínfima diferença que os isole da massa. Acontece que sempre vai existir uma diferença. E isto é o que há de mais comum.

É lógico que eu sou contra o preconceito com os doentes mentais. Acontece que o que está ocorrendo é a perfeita banalização destas doenças. Ora, se todo o mundo se declara "meio esquizofrênico", será que um esquizofrênico verdadeiro vai procurar se tratar - e levar a sério este tratamento? Ou pior: será que não demora muito até o sistema de saúde estar abarrotado de pseudo-transtornados (que podem ocupar os lugares de quem realmente precisa)?

Que modinha de anormalidade é essa? Não há nada mais comum do que ter certas atitudes que fujam do que você acha que é "o padrão". Oh, meus amigos: somos perfeitamente normais. Espetáculos da lucidez. Absolutamente sãos.


Graças a Deus.

6 comentários:

V.H. de A. Barbosa disse...

Essa coisa de tentar descobrir o final dos meus contos tá parecendo teoria de fã de Lost ;P

Quanto ao seu texto, o engraçado é que essa mania de se diferenciar também é uma padronização. Basta ver as propagandas da Coca-Cola incitando as pessoas a serem diferentes. Além disso, há muitos outros fatores ponderendo esse fenômeno, como a Moda, a internet, a música, e mesmo a influência do mundo politicamente multipolar.

Quando eu era mais novo, ainda não era normal ser diferente, então eu era o único diferente. Isso me fez passar algumas dificuldades, mas agora sinto muito orgulho por pensar e ser de modo diferente.

Logicamente, só respeito a diferença das pessoas se houver um motivo para a diferenciação. Era o que chamávamos de "poser", pessoas que só fingiam ser diferentes para pagar de fodonas. Acho que é o caso das pessoas que vc tem visto.

Outra coisa, entre Comunicação e Direito, faça a primeira mesmo. Direito é um mundo que te prende e não te deixa sair nunca mais ;P

Marcus "HEAVY" disse...

De vez em quando até gosto de pensar que sou louco; é um sinal de que ainda estou são. :)

E se maioria de votos contar, acho que sou meio maluco sim... xD

Magna Santos disse...

Você traz um assunto bem complicado para tratar aqui e assim. Falando de modo bem rasteiro: o buraco é mais embaixo. O que vemos hoje é uma inscrição do sujeito cada vez maior no corpo, antes a construção era subjetiva, hoje é corpórea, haja vista as patologias cada vez mais em face: anorexia, bulimia, obesidade (e haja redução de estômago), sem contar o "modismo" de tatuagens, piercings e tudo mais que inscreva a "diferença-igual" no físico e aí vamos nos definindo, a ciência vai nos definindo, por exemplo: não somos mais distraídos ou dementes,temos TDAH(ler Rossano Cabral), entende?
O que me incomoda mais, pois produz injustiça social, é a nossa inversão de valores. Isto, pra mim, é a grande loucura. Na verdade, o termo mais apropriado é perversão.
Como disse no início, complicado falar assim e aqui,pode sair distorcido. Por isso, segue indicação de pessoas boas de se ler: Jurandir Freire,MªRita Khel.
Bom, chega de falatório.
Abraço.
Magna

Laila disse...

Eu tenho o maior orgulho dos meus comentaristas...
Eles são cheios de conteúdo!
Adoro!

(e nunca vi Lost)

Marina disse...

Hoje as pessoas cultuam o "diferente", o "complexo", o "ser o único". Todo mundo quer se destacar, para ser notado, mesmo que seja através de uma doença. É o "se isolar para aproximar". Paradoxal, admito.

Não acho que seja questão de gostar de ser doente. Não vejo como uma coisa ruim. Antigamente xingar alguém com um palavrão era horrível; hoje é comum. Ninguém liga. "Idiota" costumava ser relativo a uma doença também. "Doido" virou comum. Depois de um tempo, tudo tende a banalizar.

gilgomex disse...

seje, como seje (erros propositais)...

"sou autista/esquizofrênico/transtornado/louco (ou coisa que o valha".

eu, com certeza, sou coisa que o valha... obrigado.