quinta-feira, 11 de fevereiro de 2010

Oferenda

Ela nunca tinha sido muito afeita a filosofias, mas diante daquela explosão de apelo visual não resistiu, parou e foi admirar e refletir.
Era, de fato, uma beleza.
Alegre, festivo, uma profusão de formas esculturais, quase arquitetônicas, que se erguiam e curvavam em direções diversas. Tudo era colorido e sinuoso. Que ostentação de luxo!
Tudo que era relativo à reprodução da espécie, ao invés de coberto, oculto, era ali exibido com orgulho.
Efêmero, sem dúvida. Não duraria mais que cinco dias. Mas, durante aquele curto tempo, seria como uma oferenda à potestade dos sentidos, a visão.
Primeiro, ela pensou que aquela beleza toda só poderia ser divina. Depois, perdida nas suas divagações, concluiu que aquele excesso sensorial não poderia ser etéreo: era carnal demais.
Isto é, se fosse carne, se fosse humano.
"Mas que belo arranjo", pensou.
Ajeitou a jarra de flores para um ângulo mais favorável na mesa e foi atender ao telefone.