terça-feira, 15 de fevereiro de 2011

Carta a Cecília

Querida Cecília,
Pode parecer estranho que eu, viva, escreva para ti, morta; mas não é mais estranho do que tu, viva, escreveres para mim, que sequer cogitava nascer. Certo?
Não sou poeta, na verdade nunca fui, embora tenha gostado muito de achar que o era, quando mais nova. Digo, porém, que gosto imensamente de poesia, e isso se deve primeiramente a ti. Te conheci por acaso, aos oito anos, e não penses que foi por "ou isto ou aquilo" ou "leilão de jardim", não! O primeiro poema teu que li foi no jornal, e hoje infelizmente não me lembro mais do nome e nem de qualquer verso, mas era sobre uma dama que caminhava em direção à guilhotina ou à forca, enfim, à morte. Achei bonito, mas muito triste, e quando mais tarde tive de escolher um poema teu para decorar para o trabalho da escola, escolhi "ou isto ou aquilo", como todos os outros da minha sala.
Então, com esse poema belo e triste, entraste na minha vida e de lá nunca mais saíste. Minha madrinha me emprestou um livro teu, que foi o meu primeiro livro de poesia e que, naturalmente, nunca mais devolvi (não que ela tenha cobrado, é claro. Aliás, ficou até muito orgulhosa por eu ter gostado tanto).
Fiz, assim, minha primeira incursão pela poesia, e conheci meninas pintadas, cavalos mortos e rosas atiradas.
Chorei com tua "Elegia" e sorri com o ovo azul. E quando subi (literalmente) em um banquinho para homenagear minha mestra, foi "Aluna" que li.
Ah, Cecília, me acompanhaste a vida inteira.
Depois de ti, os outros poetas que conheci eram quase todos homens: Carlos, Vinícius, Mário, Manuel, Olavo, Augusto e os outros todos.
Além de ti conheci também Adélia, e com ela senti e aprendi muito.
Mas se a poesia hoje é para mim o que é, é graças a ti.
Acho que não poderia ter-me iniciado de maneira melhor. Se tivesse começado com outros poetas mais modernos, talvez não desse o devido valor à forma. Ou, se meu primeiro livro fosse de poemas menos profundos, talvez eu nunca tivesse tido real vontade de aprofundar-me. Ou, ainda, correria o risco de não ver na poesia a alma feminina que existe até nos escritos dos homens.
A poesia deu sentido à minha vida, e tu deste sentido à poesia desde sempre.

Eternamente grata,
Laila.

terça-feira, 8 de fevereiro de 2011

Roupas coloridas e disparates

De uns tempos pra cá, tenho visto um movimento revolucionário anti "gente colorida" que só faz crescer nas redes sociais. Eu, sinceramente, prefiro as cores neutras e tenho horror declarado às músicas das bandas desse tipo, mas não vejo sentido nessa revolta toda.
Comunidades como "por um mundo mais preto e branco" (!) me chamaram a atenção. Notei também que os maiores discordantes do que agora chamarei de movimento colorido são as pessoas que apreciam o rock.
Ora, quando o rock'n'roll lançou sua estética inovadora, com homens que usavam cabelos compridos, calças justinhas de couro e até salto alto, e tudo preto, muito preto, creio que deva ter causado um estranhamento até superior a esses bizarros tênis de cadarços fluorescentes. E o movimento hippie? Existe algo mais colorido?
No entanto, parece que as mentes de muitos jovens "roqueiros" (detesto essa expressão) envelheceram e se tornaram caretas, isso sim. Ora, revolução certa é só a sua?
Posso particularmente não gostar das roupas e músicas coloridas, mas acho totalmente plausível que surjam novos grupos de pessoas usando e ouvindo coisas diferentes. Qualquer movimento está sujeito à modinha. Socialites já se vestiram como punks quando a alta costura decidiu que isso era o "must" da época (e vira e mexe isso volta). Então, mesmo que haja gente se vestindo dessa maneira "só para aparecer", é legítimo. Afinal, a intenção é justamente aparecer mesmo, chamar a atenção.
Além do mais, esse movimento colorido tem como principais adeptos as crianças (para mim, meninos e meninas de 12 anos são crianças, sim!). Ora, não só é adequado, como também até recomendável, que crianças vistam-se de forma alegre e ouçam músicas sem muitos dramas além dos amores juvenis. Haverá muito tempo para as cores sóbrias e os grandes questionamentos sobre a própria personalidade e os rumos do mundo no futuro, pode acreditar. Eu própria cresci escutando a Xuxa e assistindo aos Ursinhos Carinhosos e hoje sou uma jovem em perfeito estado de sanidade mental.
Aliás, quanto a esses movimentos novos, tenho muito mais simpatia pelos "restartianos" da vida que pelos emos. Pelos menos os primeiros me parecem mais alegres e menos rebeldes sem causa. Muito mais condizente com sua idade e condição de vida (eu, pelo menos, nunca vi um emo ou colorido passando dificuldades).
E digo mais: essa moda de agora também tem o fator positivo de não "sexualizar", digamos assim, as crianças antes do tempo.
Eu, pelo menos, fico mais consolada em saber que as meninas de 12 ou 13 anos deste mundo estão sentadas diante de seus computadores assistindo pela milésima vez ao Justin Bieber em sua performance de Baby, oooooohh e não à Lady Gaga se contorcendo de lingerie.
Não é?