domingo, 28 de junho de 2009

A sociologia e o caipvodka

Festa junina. Agora nas quadrilhas tem tango, tem música da Xuxa, tem música indiana, tem música do Michael Jackson (um minuto de silêncio). As caipiras agora usam cinta-liga e meia 7/8. O arrasta-pé virou batidão. E a batida e o quentão não dão mais lucro.
Como as festas de colégio ainda são familiares, resolvemos vender então algo mais familiar: caipfruta com guaraná para as crianças, com uma dose modesta de vodka para os adultos e fondue de chocolate. Mais para o fim da noite, vendo nosso lucro desaparecer, resolvemos vender a alma a vodka pura em doses. Vou tratar o texto como um relatório, isto é, sem opinião, só os fatos.
1 - Das quantidades:

Foram compradas 4 garrafas de vodka. As primeiras duas, em forma de caipfruta, demoraram seis horas para serem vendidas. As outras duas acabaram em 45 minutos.

2 - Dos preços:

Qualquer cidadão maior de 18 anos pode comprar uma garrafa de um litro de vodka por R$3,00 em um supermercado. As doses têm aproximadamente 60mL e são vendidas a R$2,00 cada. E acabam rapidinho.

3 - Dos comentários:

"Arrrrrgh mas isso é muito ruim. Me vê mais uma aí!"

"Ahn, o fondue engorda muito, né? Me vê dois caipvodkas então."

"_Quanto é o caipfruta?
_É dois reais.
_O que é que leva nisso?
_Morango, leite condendado e uma dose de vodka.
_Uma dose só?
_É, uma só.
_Poxa, mas dois reais é muito caro pra uma dose só! Você vende vodka pura?
_Vendo.
_Quanto é?
_É dois reais a dose.
_Ah então eu vou querer uma."


Se beber, não dirija.

terça-feira, 2 de junho de 2009

"Tá querendo"

Não entendo por que é que na nossa sociedade a mulher está sempre "querendo". Se um homem sai em camisa, está com calor. Se uma mulher sai de decote ou top, está "querendo". Se um homem vai ao baile funk é para se divertir. Se a mulher vai, é porque está "querendo". E o pior é que várias vezes são as próprias mulheres que dizem isto umas das outras.
Não vou fazer nenhuma dissertação a favor de tops ou bailes funk, pois não gosto de nenhuma das duas coisas. O fato é que a mentalidade machista já está tão enraizada que pensamos sem sequer questionar. Tem homem que acha que "gostosa" é elogio. O que é gostoso é comida, e tal sinestesia não me agrada nem um pouco.

Será que uma mulher que vai a um baile funk esta mesmo "querendo"? Será que por sair de minissaia ela dá a outrem o direito de compará-la a comidas e animais? Pode até existir quem goste desse tipo de comentário, mas não sei quem instituiu que isso é o senso comum e que qualquer um tem direito de mexer com uma mulher na rua. O pior é que não vale nem se revoltar. Imagina uma mulher abrindo um processo contra um homem que a chamou de gostosa. O juíz vai rir da cara dela.

Outra coisa que eu não entendo é como é que uma mulher que dança feliz da vida uma música que a chama de cachorra sai no tapa se você a chamar de cadela.

Entendo menos ainda por que é que um homem gostaria de ter uma cachorra por companheira.

Não entendo muitas coisas, mas uma é certa: nem toda mulher "está querendo". E a melhor forma de descobrir com certeza não é usar uma cantada barata.