segunda-feira, 26 de janeiro de 2009

M.A.P. - O modesto-holofote

Garanta seu entendimento, leia a abertura da série primeiro.

O modesto-holofote gosta de aparecer, sabe disso, e não está nem aí. É um tipo que acha hipocrisia a modéstia falsa. Quando elogiado, agradece; quando chamado a fazer algo que sabe, vai. Se fala bem, vai fazer um discurso. Um exemplo vivo é a própria blogueira que vos escreve.

Vai ser mais complicado manter a minha parcialidade ao falar da minha classe, mas farei o possível para colocar a modéstia à parte. Um modesto-holofote tem consciência de suas qualidades e defeitos, embora se sinta meio machucado ao falar destes últimos. Não que ele não os reconheça, apenas não gosta muito de ouvi-los pelas outras pessoas. Ele recebeu este nome porque gosta de atenção, e nada como um bom refletor para consegui-la.

As pessoas que têm essa característica costumam causar péssimas primeiras impressões, e quando fazem um novo amigo o bordão "nossa, quando te conheci achava que você era nojento!" é um clássico. Geralmente são autoritários e têm mais dificuldade para trabalhar em equipe. São adeptos da filosofia do "se quer perfeito, faça você mesmo" e levam a sério. Muitas vezes a ponto de fazer sozinho um trabalho para 10 pessoas por falta de confiança no trabalho alheio.

Mas não tenham preconceito, por trás de um modesto-holofote não há nada mais do que uma pessoa que quer aparecer por seu próprio mérito, e não por negação dele. Esse tipo costuma ter uma boa auto-estima, porém frágil. São confiantes ao se afirmar e sabem o que fazem, mas basta ouvir uma crítica para que se desmanchem em defesas.

Na minha [humilde] opinião, este é o melhor e mais honesto tipo de modesto.



Ops, não me contive.


Mais M.A.P.? Conheça os amigos modesto-confete e modesto-caviar

terça-feira, 20 de janeiro de 2009

Nós, os imortais

Algumas vezes na minha vida (e não foram muitas, dada a minha curta existência por aqui) eu tive uma sensação esquisita de História. A mais marcante foi em 2001. Passei por outras antes, mas foi só na terceira série, com a maturidade impressionante de uma menina de 9 anos, que eu passei a ver as coisas de outro modo. Naquela manhã de setembro eu tinha faltado o colégio porque tive febre, e no meio do meu desenho começou a passar prédio caindo, avião, árabes barbudos.

Depois eu fui vendo outras coisas, sempre com a mesma impressão: eternidade. Acabar de ver algo bom ou ruim que vou poder contar para os meus netos e ver a carinha deles igual à que eu sempre fiz quando ouvia meus avós e bisavós contarem grandes fatos do passado. É algo impressionante, que dá uma sensação de imortalidade.

Hoje foi uma sensação dessa. É claro que vocês já sabem porque. Eu procurei me manter imparcial nas eleições americanas, e várias vezes fui indiferente ao Obama ou à vice escandalosa do McCain. Mas hoje, no juramento da posse, independentemente da qualidade de governo que ele faça daqui por diante, vi que o cara já virou imortal. E nós com ele. Nós vimos.
Yes, we saw.


Obs.: A M.A.P. não acabou, semana que vem tem mais. Só quis fazer do Banquinho um pouco imortal também.
=)

quarta-feira, 14 de janeiro de 2009

M.A.P. - O modesto-caviar

Para ler a abertura da série clique aqui

Vocês já ouviram falar da gauche-caviar, a "esquerda festiva" francesa? Pois é, hoje vamos falar do modesto-caviar. O modesto-caviar, assim como o modesto-confete, é adepto da falsa modéstia. A principal diferença entre estes dois tipos é o interesse. Enquanto o confete busca a aprovação de todos e elogios, o tipo em questão só quer ser considerado educado. Simples assim.

O sujeito aprendeu a vida inteira que querer aparecer é errado, que é falta de educação. Então, nada mais óbvio do que ser modesto até a raiz dos cabelos. O modesto-caviar não só nega suas qualidades, como também admite seus defeitos (mesmo que isto acarrete situações embaraçosas).

Por exemplo, nosso estimado amigo é obeso. Ao estar num grupo de amigos, vai sempre citar seu peso, geralmente para parecer engraçado. Ele sabe muito bem que ninguém vai dizer "ah, que isso! você está ótimo!". E ninguém diz mesmo.

O modesto-caviar é inseguro, completamente inseguro, e tem péssima auto-estima. Pode até ser que pense: "bom, já que não tenho qualidades para simpatizarem comigo, vou fazer todo mundo simpatizar com meus defeitos". E há duas variações: o que busca pena e o que busca risos, sendo que este último costuma ser mais bem aceito nos círculos sociais.

Desta vez não vou propor experimentos divertidos, porque acho que brincar com gente de baixa auto-estima pode ser desagradável para os dois lados. Ele quer atenção, não para aparecer, mas sim para ser aceito e se sentir querido. Faça por onde, né?


Mais M.A.P.? Leia O modesto-confete

quinta-feira, 8 de janeiro de 2009

M.A.P. - O modesto-confete


Colegas, isto é uma série. É bom ler a abertura primeiro. [clique]


Este é um tipo bem comum. O modesto-confete é, antes de tudo, orgulhoso e inseguro. É aquele que tem plena consciência das suas habilidades, mas não tem segurança o suficiente para admiti-las.

É simples. Vamos supor que o nosso amigo em questão saiba cantar. Agora, imaginemos uma festa. Todos pedem para que ele cante, mas não há meios de fazê-lo cantar. As pessoas dizem “ah, você canta tão bem, canta só um pouquinho!” e ele, rogado, responde “Cantar?! Eu? Com essa voz de taquara rachada?”. A chuva de súplicas e elogios que se segue é o alimento perfeito para o orgulho dele.

O modesto-confete é tão orgulhoso, que tem medo de arriscar-se mostrando suas habilidades. Ele sabe que talento assusta e afasta as pessoas. Então, resolve se esconder atrás de uma capa de falsa modéstia para buscar a aprovação de todos.

Não se engane, ele não é um falso-modesto comum. Não, ele tem um objetivo com a falsa modéstia dele: a aprovação de todos. Ele é aquele que sempre quer se dar bem com todo mundo. É exatamente porque ele é tão orgulhoso e inseguro que ele precisa de elogios constantes. E a melhor forma para consegui-los é, lógico, negar o talento. Assim, pode ser aclamado sem parecer arrogante.


Um experimento divertido: tente não dizer nada quando ele se fizer de rogado. Não concorde nem nada (ele pode se ofender!), só fique quieto e espere. Pode ser que a pessoa se toque.
Ou não.

domingo, 4 de janeiro de 2009

M.A.P. - Modéstia à parte

Oh, não aguardes, que a madura idade
Te converta em flor, essa beleza
Em terra, em cinza, em pó, em sobra, em nada.

Gregório de Matos


Fogueira das vaidades. Não há nada melhor para descrever este "fenômeno". Fogueira é uma figura interessante. Dá a entender algo efêmero, que se consome e termina como cinza. A vaidade fútil, aqui entendida como falta de modéstia, não tem melhor fim do que o fim propriamente dito. Convertida em nada.

Calma. Não vim dar uma de moralista condenando a falta de modéstia, muito pelo contrário. Ao longo da estrada fui encontrando e vendo e lendo sobre gente e suas dúvidas sobre a modéstia. Não há regras escritas que expliquem de que forma a modéstia deve ser usada, etica e educadamente; de modo que as pessoas se sentem confusas quanto a isto e não sabem o que fazer.

Daí tirei a idéia de começar uma série - a M.A.P. - que conte um pouco dos "tipos" que a gente encontra por aí. Vai ser divertido, e pode ser que a carapuça sirva em muita gente. Não esqueçam de voltar para conferir!