quinta-feira, 30 de julho de 2009

Pandemia, pandemônio

Pandemônio: (sm) 3. Balbúrdia, tumulto

Somente na África, morre uma criança de menos de 5 anos a cada trinta segundos infectada pela malária. Estima-se que existam 18 milhões de pessoas infectadas com doença de Chagas nos países latino-americanos. Nos países em desenvolvimento, mais de 20% da população tem infecção contínua por giardíase.
Sabia?
Se sabia, provavelmente é vestibulando ou foi há pouco tempo.
Mas isto aqui não é um blog médico. O que acontece é o sensacionalismo. A nova gripe matou (estimativa!) umas 60 pessoas no Brasil e o álcool gel some do mercado, e todo mundo quer máscara e deve-se evitar multidões e aglomerados.
Por que este pandemônio?
As protozooses citadas no primeiro parágrafo atingem principalmente as populações pobres que vivem em condições pífias de saneamento e higiene. É por isso que não há sensacionalismo em cima delas: afinal, se a população já está morrendo mesmo por causa da fome e da violência, por que se preocupar com as doenças?
Enquanto isto, nas grandes cidades, as pessoas adiam seus intercâmbios e suas viagens internacionais e lotam as clínicas com medo da Influenza A, que já foi tachada de pandemia. E agora por causa da gripe há mobilizações gigantescas da OMS para desenvolver tratamentos, vacinas e conscientizar o povo.


Enquanto isso as crianças africanas vão morrendo, duas a duas, a cada minuto.

segunda-feira, 20 de julho de 2009

Falsos pudores

Pudor: sm 1 Sentimento de pejo ou vergonha, produzido por atos ou coisas que firam a decência, a honestidade ou a modéstia.
3 Pundonor, recato, seriedade.


Nesses programas "reality show", entre outros assuntos altamente filosóficos, fala-se muito em combater os falsos pudores. Por falso pudor o senso comum entende "uma atitude que você tomaria em casa ou entre seus amigos mais próximos e que não externa no meio da sociedade por vergonha". Há até quem diga que o falso pudor é um tipo de falta de caráter. E o pudor verdadeiro? Alguém sabe diferenciar um do outro? Nessa de "tirar as máscaras" as pessoas não abrem mão só do falso pudor: existe gente (e não é pouca!) sem pudor algum.

Levanto outra questão: e o pudor inverso? Gente que é por demais séria ou recatada em casa, entre os amigos, mas quando chega na sociedade tem que aprender a se soltar para não ser acusada de conservadorista ou falsa moralista. Eu já passei muitas vergonhas por ter vergonha. Já tive que me desculpar por não gostar de palavrão, já tive que justificar outras tantas vezes porque não gosto da dança do créu e até por causa de um post aqui no blog já tive que ouvir que gostosa é elogio sim!

Então é o fim dos "filtros"? Quer dizer então que é muito mais verdadeiro portar-se da mesma forma em todos os lugares, sem o mínimo de preocupação com a linguagem, com os gestos e até com as roupas? E olhe que pudor não é só a vergonha produzida pela moralidade e pelos costumes. Como a própria definição da palavra diz, pudor é também ter vergonha de atos que firam a honestidade.

Antes falso pudor que pudor nenhum. E digo mais: o "falso pudor" não é nem falso, pois nada mais é do que ter vergonha de ter certas atitudes em público. O verdadeiro falso pudor é fingir que se tem vergonha de algo que não tem.

O que falta neste mundo, neste país, nesta sociedade é uma boa dose de pudor. Vergonha na cara, se quiserem uma expressão mais direta. E isso para qualquer ocasião: seja para saber que nem todo mundo que vai à praia quer se deparar com um topless, que grande quantidade de mulheres não gosta de ser despida com os olhos, que nem todo mundo acha graça em piadas sujas, ou mesmo para não saber onde enfiar a cara quando se é pego fazendo algo que contrarie "a decência, a honestidade ou a modéstia".
Bom senso não basta. Tem que ter muito pudor.
Verdadeiro.

segunda-feira, 13 de julho de 2009

Catarse ha-ha-ha

Ridendo castigat mores

Existem vários tipos de humor. Humor barato, negro, inteligente, sujo e até o chamado "humor engraçado" como inventaram ultimamente. O humor é muito amplo, é necessário especificá-lo: este texto é sobre humor barato político brasileiro. O leitor naturalmente está pensando que humor político se classificaria melhor em "inteligente" que em "barato", mas é bom não confundir: é humor barato versão política. Brasileiro, pois não tenho vivência no exterior para saber como é por lá.

O provérbio latino na epígrafe quer dizer "rindo corrigem-se os costumes". Na comédia do teatro clássico, existia este processo de fazer rir para corrigir o senso comum. O humor era uma ferramenta política. Por meio dele, o cidadão enxergava defeitos e falhas da sociedade para depois corrigi-los. O que se vê hoje na maioria das charges, das publicações humorísticas e dos programas televisivos (maioria não é totalidade!) é a completa falência do sistema de rir para castigar.

Agora, o que se faz é rir para acomodar. O provérbio que melhor expressa é "só rindo para não chorar". É muito mais fácil banalizar (ou baratear) para consolar. Um povo anestesiado com humor barato se torna menos crítico. Dinheiro na cueca? Castelo escondido? Farra de passagens? HA-HA-HA. Seria hilário se não fosse trágico. E isso tudo é explorado que é uma beleza. E o povo ri. Ri sem castigar costume nenhum. Ri para não chorar. Ri sem protestar, sem questionar, sem mudar de atitude. Ri porque não tem jeito nem jeitinho que resolva.

E o mais triste (ou seria mais cômico?) é que os próprios políticos passaram a levar na brincadeira. Riem junto com o povo, da cara do povo, na cara do povo.
Ficou tudo tão engraçado que tem gente se esquecendo até de ficar sem graça.
Quer saber? Não tem graça nenhuma.

sexta-feira, 3 de julho de 2009

Posse

Decorar poemas é como catar conchinhas: as pessoas tentam de todas as formas se apossar de uma beleza sublime que não é sua nem pode vir de si, só para poder admirá-la quando lhes apraz e mostrá-la a quem possa interessar com ar de dono.




Obs.: O Banquinho está no jornal! O artigo sobre o novo ENEM está na edição 37 do Valença em Questão, que saiu na quinta feira. A edição está especialmente voltada para a Educação, e está disponível para baixar no blog do VQ (http://blogdovq.blogspot.com/).